1. Missionário da Igreja Católica: o líder que permanece!
Quem apresenta este testemunho é um missionário que iniciou o trabalho em 1966 em Angola. Foi colocado provisoriamente na Lunda, no Dundo, por 3 anos. Depois colocado em Cacuso—Malanje onde permaneceu sempre até 1991, tendo celebrado, presencialmente com o povo, a grande e maravilhosa festa da independência de Angola no dia 11 de Novembro de 1975. Em 1991 foi colocado no Golungo Alto, diocese de Ndalatando, vizinha de Malanje, cujo povo pertence à mesma etnia e língua de kimbundo. O que vier a falar sobre Angola, refiro-me, em 1º lugar, à parte norte.
O missionário é uma pessoa que se entrega voluntaria e gratuitamente ao desenvolvimento da pessoa humana no seu campo espiritual e corporal. É a pessoa toda que ele toma para a desenvolver, fazer crescer, e a tornar participante de todos os benefícios do Criador: benefícios corporais e espirituais.
Cristo disse: quem trabalha comigo junta, faz comunhão; quem não trabalha comigo dispersa. A maior parte das grandes cidades da Europa nasceram e cresceram à volta dos conventos religiosos: Lisboa, Paris, Madrid. Depois, estas cidades, assim nascidas e desenvolvidas de Mãe Católica, deram origem a outras na América e até na Ásia sempre com os mesmos princípios morais.
P. Joaquim da Silva Ferreira, no Golungo Alto, em Angola (2015, foto pelo P. José Manuel Sabença)
Quando chegaram em Angola, os missionários construíram em 1º lugar a escola, onde começaram a curar os doentes e a ensinar; e a capela, onde se reuniram para rezar. O missionário não sabia a língua. Inicialmente só usavam os gestos de amor, a única língua conhecida. Ao mesmo tempo o missionário entrava na escola em que o povo era o seu professor: aprendia a língua, os costumes, a tradição, os seus trabalhos, o modo de pensar e até de acreditar em Deus: numa palavra, inculturava-se; e o povo aprendeu a ler, a escrever e a acreditar em Deus revelado por Jesus Cristo. Também isto me contou o povo, quando me tentei inculturar.
Uma situação que revelou o valor inigualável do trabalho missionário foram as 2 guerras em Angola: a primeira foi a guerra colonial contra o domínio português que acabou em 11-11-1975 com a independência e a segunda é a guerra civil entre os irmãos angolanos, que terminou em 2002 com a morte de Savimbi e os acordos subsequentes. Sobre a 1ª há um livro (“Figuras do Golungo Alto”, escrito por mim) onde se mostra quem é que derramou o sangue pela independência de Angola. E aí é claro, como 2 e 2 são 4, que sem a Igreja Católica não seria possível a independência de Angola naquela data. Estou a falar da vitória das forças em combate e do justo reconhecimento do direito da imediata Independência de Angola por todos os países do mundo. O procedimento político foi outra coisa; foram os políticos que trataram do assunto.
Quanto à guerra civil há um livro que fala dos 500 anos de colonialismo português escrito por um autor inglês protestante, e diz claramente que foi admirável o comportamento das Irmãs religiosas nos hospitais. Muitos ateus se converteram ao ver o humanismo, o carinho e o cuidado maternal que as freiras praticavam no cuidado e tratamento dos doentes fora e dentro dos hospitais. No respeitante à Igreja Católica diz que: os Bispos da Igreja Católica saíram da Guerra com uma grande credibilidade e muito apreço por todo o povo de Angola pelo modo como lideraram com as 2 partes em luta e sofreram com o povo as agruras da guerra. Se quisessem poderiam retirar-se, como fizeram outros líderes religiosos. Mas permaneceram no meio do povo no sofrimento e, depois, na alegria. Quanto à minha presença física no tempo da Independência, permaneci com o povo e assim puderam ver que os missionários da Igreja Católica são missionários antes e depois da Independência. E sobretudo agora, a Igreja Católica aumenta muito mais que no tempo colonial. Em 1991 e já na segunda parte da guerra civil, o missionário da Igreja Católica foi o único líder que permaneceu no meio do povo e teve a graça de libertar da morte muitas pessoas, sobretudo jovens.
P. Joaquim Ferreira da Silva – Missionário em Angola