O P. José de Araújo nasceu em Avintes, Vila Nova de Gaia, a 17 de janeiro de 1932.
Fez os seus estudos secundários nos seminários dos espiritanos, em Godim e Fraião. Foi ordenado sacerdote no seminário da Torre d’Aguilha em 16 de Setembro de 1956.
Em 1957, na Universidade Gregoriana, em Roma, faz a sua Licenciatura em Teologia. Neste mesmo ano, regressa a Portugal. A estrada da missão esperava-o.
Em Angola, como professor no Colégio do Espírito Santo de 1957 a 1962; foram cinco anos de professorado consciencioso, gastos numa doação crescente e apaixonada.
Em Espanha, de 1963 a 1970, onde os espiritanos estavam a lançar os alicerces da animação missionária e vocacional, o P. José Araújo aceitou o envio. Foram sete anos, sem descanso a percorrer Espanha de lés-a-lés. Fez milhares de quilómetros e milhares de amigos. Os seus grandes olhos pretos cintilam e cativam, anunciam e libertam; o seu amor, sereno e muitas vezes sem palavras, nascido da devoção a Nossa Senhora e no silêncio diante do sacrário, prende e arrasta à generosidade. Foi diretor e redator da Revista “Pentecostes Misionero”. Por ela, manifesta a sua alma missionária com singela transparência. Os leitores sentiram a profundidade de vida que os seus escritos deixavam escapar. Escreve milhares de cartas orientando consciências sobressaltadas, entusiasmando corações sem rasgo, falando da gratuidade da vida, espalhando o espírito missionário, aconselhando a uma opção radical por Cristo. (Memorial dos Espiritanos Portugueses, 1867-2007, pág. 243-244)
Em Portugal, em 1970, a pedido do Superior Geral, aceita o cargo de Provincial. Tempo difícil. Um pouco por toda a parte, havia convulsões sociais e religiosas. Pelo seu espírito de compreensão e de tato humano, nascido da serenidade do Evangelho e da certeza da vontade do Senhor, pelo seu coração bom e sincero, curtido pelo sofrimento e pela fé, pelo seu sorriso simples e bondoso, construiu a unidade da Província, relançou as obras de formação missionária e o espírito missionário dos seus confrades, sem grandes discursos, sem grandes escritos, sem grandes alterações, apelando ao realismo da vida e à evolução rápida do seu tempo. Nas suas Circulares e Cartas, fala e escreve sobre: aceitação mútua, quem somos nós, apela à renovação, à união para a missão, pois somos animados pelo Espírito Santo, à procura da unidade, fazendo comunhão com todos, pelo acolhimento, no coração da Igreja, enfrentado os desafios da hora presente que vivemos, rasgando caminhos de futuro. (Como torrente de esperança, pág. 73-104)
Em 1976, chegando ao fim do seu Provincialato, em tempo difícil, cansado e muito sofrido, volta para a Espanha. Nessa data já a doença o visitava. Em Madrid, onde muitos confrades e amigos o rodearam de mil cuidados, o Senhor veio chamar o P. José de Araújo a 26 de Dezembro de 1979.
Tinha, apenas 47 anos de idade. Soube ler, para si, o diagnóstico do seu médico: cancro no intestino grosso. Não fazendo sofrer, sofria para si, suportando a dor minimizando-a; falava da esperança e do futuro como se ainda tivesse cem anos para viver. A paz, a serenidade, a alegria não lhe foram roubadas pela doença. Estas nasciam da força de Deus que o habitava.
Partiu para a Casa do Pai com o seu “sonho ao encontro do futuro”, radicado no Concílio Vaticano II, partilhado, apenas, com algumas pessoas. Pensou na criação de um grupo de jovens vocacionados para viverem a dimensão da sua vocação missionária, partilhando o carisma dos espiritanos. O seu projeto não foi proposto, oficialmente, à Província. Chegou, ainda, a elaborar um esboço de projeto intitulado “Connosco, de mãos dadas com Ele” e com o subtítulo “Um projeto para a tua vida: esboço de uns estatutos”. (Como torrente de esperança, pág. 107, 108)
Na verdade, uma das linhas de força do Concílio Vaticano II foi a redescoberta dos leigos e da sua participação na missão da Igreja. A vocação missionária dos cristãos tem as suas raízes na vocação batismal. Leigos e clérigos, todos recebemos o mesmo batismo. Para viver o Evangelho, testemunhar e anunciar o Reino de Deus a todos, no dia a dia da vida. O presente Sínodo dos Bispos, em Roma, em outubro de 2023, vai-nos trazer mais clarificação nas palavras e ações, no interagir cristão. Fará sentido continuar a falar de religiosos-religiosas, consagrados, consagradas? Quem não é “religioso-consagrado” o que é? Mas recebeu o mesmo batismo! Para pensar!…
A primeira pessoa com quem partilhou o seu projeto foi uma jovem de Madrid, que logo aderiu à causa. A semente foi lançada. Está a germinar para a “Causa da Beatificação” do nosso P. José Marques Gonçalves de Araújo, em Madrid, desde 2016.
Toda a documentação referente ao P. José de Araújo, exigida para este Processo, foi enviada de Lisboa para Madrid, em 2022.
De Madrid chegou-nos esta oração pedindo a graça da beatificação:
“Senhor Jesus Cristo que deste ao teu servo P. José Araújo um coração semelhante ao teu, na afabilidade com todos e com uma especial dedicação aos mais pobres e abandonados, concede-nos por sua intercessão a graça… que Vos pedimos, com a esperança de que seja incluído no número dos Vossos santos, a Vós que viveis e reinais com o Pai na unidade do Espírito Santo. Ámen.”
João Mónico
