“Jesus dizia também às multidões: quando vedes surgir uma nuvem na direção do pôr-do-sol, logo dizeis que é sinal de chuva, e, de fato, assim ocorre. Também, quando sentis soprar o vento do Sul, proclamais: ‘Haverá calor!’, e acontece como previstes. Hipócritas! Sabeis muito bem interpretar os sinais da terra e do céu. Como não conseguis discernir os sinais do tempo presente?”
Recuemos até 27 de Março de 2020, em Roma, para lembrar como um pequeno vírus, invisível e não palpável, foi capaz de tornar caótica a vida de todo o planeta. Numa praça de S. Pedro vazia e banhada de chuva, disse o Papa Francisco: “Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados. Foi um momento inesquecível, comovente e doce como uma carícia, enquanto muita gente morria nos hospitais, as famílias estavam fechadas nas suas casas, os jovens provados nos seus projetos, os postos de trabalho perdidos e os pobres a tornarem-se cada vez mais pobres. E, então perguntamo-nos: «Porquê? Que sentido tem isto? Onde está Deus?»
1. Situações
Ao olharmos a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022, com a monstruosa destruição de vidas, casas, portos e todo o tipo de infraestruturas, perguntamo-nos se se pode encontrar o sentido da vida no meio de uma guerra” insensata”. E outras perguntas se nos impõem: porque sofrem as crianças? E o mistério da morte? E a ameaça nuclear? E o alastramento da fome e das guerras? E a urgência de um pacto climático e alimentar?
2. Perguntas
Nas situações que parecem sem esperança, as respostas às perguntas mais impossíveis, não nos chegam, como poderíamos supor, nem da ciência, nem da política, nem da economia, nem da tecnologia, nem do trabalho duro, nem das negociações de paz, nem do progresso, nem das revoluções democráticas, tudo coisas de que precisamos, mas que, por si só, não bastam. A Gaudium et Spes diz-nos que o sentido mais profundo só o pode dar Aquele que nos considera filhos, que nos pensou antes de nascermos e quis que cada um fosse único, irrepetível e indispensável sobre esta terra. É este o sentido da vida que a Igreja propõe aos homens. Nas JMJ/Lisboa-2023, o Papa Francisco afirmou:” queridos amigos e amigas, convido-vos a pensar nesta beleza: Deus ama-nos, não como queríamos ser, nem como a sociedade quereria que fossemos”.
3. Abertura
Que é o homem? Qual o sentido da dor, do mal, e da morte, que, apesar do enorme progresso alcançado, continuam a existir? Para que servem essas vitórias, ganhas a tão grande preço? Que pode o homem dar à sociedade, e que coisas pode dela receber? Que há para além desta vida terrena? Estas perguntas que vêm no nº 10 da G.S. sugerem-nos que a vida não é uma passeata; muitas vezes é uma peregrinação difícil, marcada pelo cansaço e pela dor. Mas há aqueles que ainda encontram, sustentados pela fé, o seu “sentido da vida”. Tal é, e tão grande, o mistério do homem, que a revelação cristã manifesta aos que creem. E assim, por Cristo e em Cristo, esclarece-se o enigma da dor e da morte, o qual, fora do Seu Evangelho, nos esmaga. Cristo ressuscitou, destruindo a morte com a própria morte, e deu-nos a vida, para que, tornados filhos no Filho, exclamemos no Espírito: Abba, Pai (G.S.22).
4. ‘Universidade do Sentido’
O Papa Francisco acaba de criar, no Vaticano, a ‘Universidade do Sentido’ “para responder à crise global do sentido”. A nova universidade, gerida pela Fundação ‘Scholas Occurrentes’, “alimenta a alma e sabe distinguir o que é simplesmente útil do que é indispensável”, e ajuda a não perder de vista “o que é essencial, porque o homem não vive só de pão” A aprendizagem vai nutrir-se de “todas as linguagens” do conhecimento científico e humanístico, da arte, da tecnologia e das experiências de vida.
Para refletir e conversar:
1. Nunca o género humano teve à sua disposição tantas riquezas, possibilidades e potência económica; e, todavia, uma grande parte dos habitantes do globo é ainda atormentada pela fome e pela miséria e multidões inteiras não sabem ler nem escrever. O que falta para que todos possam ter o gosto do “sentido da vida”?
2. Que exigências tem o caminho interior que leva o crente a encontrar-se com o Senhor para n`Ele encontrar” o sentido da vida”?
Sugestões:
Ler na Gaudium et Spes, o capítulo I – A dignidade da pessoa humana, números 12 – 23.