“Deus serviu-se do caminho do amor para revelar o profundo mistério da sua vida trinitária. Além disso, a íntima relação existente entre a imagem de Deus-Amor e o amor humano permite-nos compreender que «à imagem do Deus monoteísta corresponde o matrimónio monogâmico. O matrimónio baseado num amor exclusivo e definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e, vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano”
(Bento XVI – Congresso Internacional sobre matrimónio e família, 11 maio de 2006).
O Concílio Vaticano II, na constituição pastoral Gaudium et Spes, dedicou diversas páginas, com acentuações novas, à família. Por sua vez, o Papa Francisco, nos últimos anos, convocou dois sínodos sobre este tema e escreveu a exortação Amoris Laetitia (A alegria do Amor), que exalta a alegria do amor conjugal e apresenta o rosto de uma Igreja próxima da vida concreta das famílias, tais como são, com as suas alegrias, mas também com as suas feridas e os seus problemas.
1. A primeira “célula”
O bem da pessoa, da inteira sociedade e da própria comunidade cristã, está ligado está de modo estreito ao bom estar da família, que é a primeira célula do tecido social. Este é um dado claro, ainda que ainda que se evite recordá-lo. Basta olhar para as nossas experiências mais recentes para tomarmos disso consciência. Que teria acontecido com a pandemia com os seus constantes confinamentos, se não fossem as famílias? A família é primeira escola, é o primeiro suporte social e até o primeiro hospital. Muitas vezes, até o único: em tantas partes do mundo, o hospital não existe ou é um privilégio para poucos e então são as mamãs e os papás, os irmãos e as irmãs, os netos e a netas que garantem os primeiros cuidados e ajudam a curar. A família é também a “Igreja doméstica”, o lugar onde se aprende a fé, mais que das palavras, pelos exemplos de vida. Eis porque é fundamental esta firmação do Concílio: o bem das pessoas, da sociedade e da própria Igreja está ligado à família e ao estado das famílias.
2. Amar “para sempre” é ainda possível?
Em 2014, o Papa Francisco, num encontro de noivos disse que esta é a pergunta que devemos fazer: é possível amar-se “para sempre”? Hoje muitas pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas. Um rapaz dizia ao seu bispo: «eu quero ser sacerdote, mas só por dez anos». Tinha medo de uma opção definitiva. Trata-se de um medo generalizado, próprio da nossa cultura. Fazer escolhas por toda a vida parece impossível. Hoje tudo muda rapidamente, nada dura por muito tempo. E esta mentalidade faz com muitos que se preparam para o matrimonio digam: “estaremos juntos até que o amor dure”, e depois? Saudações e até à vista! E assim termina o matrónimo. Mas o que entendemos por “amor”? É, certamente, uma relação, uma realidade que cresce e, podemos dizer, que é algo que se constrói como uma casa. Construir significa favorecer e ajudar o crescimento. Não se pode construir sobre a areia de sentimentos que vão e vêm, mas sobre a rocha do amor verdadeiro, o amor que vem de Deus. Como o amor de Deus é estável e para sempre, também o amor, que funda a família, queremos que seja estável e para sempre sem nos deixarmos vencer pela cultura do provisório.
3. Igual dignidade
A Gaudium et Spes, depois de repetir que o amor esponsal, valorizado pelo empenho recíproco e consagrado por um sacramento, permanece fiel de modo indissolúvel, excluindo adultério e divórcio, faz notar a importância da «igual dignidade pessoal», reconhecida tanto ao homem como á mulher. Se é verdade que um grande caminho foi já percorrido em muitas sociedades, muito falta ainda fazer para que esta «igual dignidade» seja plenamente reconhecida, por causa de mentalidades machistas habituadas a considerar a mulher submissa ao homem. Por ouro lado, o reconhecimento recíproco da «igual dignidade» dos esposos, para que as relações conjugais se solidifiquem no tempo, supõe, recorda o Concílio, espírito de sacrifício e uma vida que seja alimentada na oração e nos sacramentos.
Para refletir e conversar:
1. Numa perspetiva cristã, quais a alegria do amor, experimentados em família? Que feridas atingem hoje as famílias e tornam os jovens reticentes quanto ao «amar para sempre» e arriscar ser família?
2. Como leigos comprometidos com a missão que contributo podemos dar, pessoalmente e como grupo, para que a Amoris Laetitia, isto é, a alegria do amor, possa ser o elemento essencial para construir famílias felizes
Para aprofundar:
Exortação apostólica “Amoris Laetitia” – Capítulo II – A realidade e os desafios das famílias, nº 31 a 57.