“Chegaram ali alguns homens da Judeia que começaram a ensinar aos irmãos: “Se não obedecerem ao costume da circuncisão ensinado por Moisés, não podem ser salvos.” Gerou-se entre eles e Paulo e Barnabé uma não pequena contenda e discussão acerca deste assunto. Finalmente foi determinado que Paulo, Barnabé e alguns outros fossem ter com os apóstolos e anciãos para tratar desse problema. A igreja enviou esses delegados a Jerusalém. Pelo caminho, pararam em várias cidades da Fenícia e da Samaria para visitar os crentes, informando-os, para grande alegria de todos, que também os gentios se estavam a converter. Chegados a Jerusalém, foram recebidos por toda a igreja, estando presentes todos os apóstolos e anciãos. Paulo e Barnabé contaram o que Deus tinha feito através do seu trabalho. Mas alguns dos que tinham sido fariseus, e que tinham crido, puseram-se de pé e afirmaram que todos os convertidos gentios deveriam ser circuncidados e obrigados a guardar a Lei de Moisés. Então os apóstolos e os anciãos da igreja marcaram nova reunião para resolver o assunto.
O Papa Francisco, em 10 de outubro de 2021, convocou a Igreja universal para um processo sinodal, com o lema: «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão». O Povo de Deus esteve desde então em movimento num percurso que começou com uma consulta a nível paroquial, diocesano, nacional e continental e desagua na primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a realizar-se de 4 a 29 de outubro de 2023, sendo que a segunda será em Outubro de 2024.
A palavra “sínodo”, do grego synodos, significa “caminhar juntos”, seguindo a mesma direção. Isso marca a condição itinerante e peregrinante da condição cristã e da vida da própria Igreja. É bom lembrar que os primeiros cristãos se compreendiam como «os do caminho» (At,9,2), qual caravana peregrinante, seguindo a Cristo, «caminho, verdade e vida» (Jo.14,6).
2. A Igreja como Povo de Deus
A sinodalidade é um modo de ser e de agir em que todos os cristãos, porque batizados e ungidos pelo Espírito, são corresponsáveis pela vida e missão da própria Igreja, nas comunidades concretas em que se inserem. Por isso, se afirma que o dinamismo sinodal na vida da Igreja é pôr em ação a conceção conciliar da Igreja como mistério de comunhão. Certamente, daí parte a convicção de que este Sínodo é o maior acontecimento eclesial depois do Vaticano II, pois o que se pretende é desencadear na Igreja um processo dinâmico e participativo de auscultação e discernimento do que o Espírito Santo quer dizer à Igreja.
O Secretariado do Sínodo, ao longo do tempo, foi dando conta de mudanças significativas que caraterizam este Sínodo. Mulheres leigas, irmãs religiosas e homens leigos vão participar como membros ativos da próxima Assembleia, e isso é um passo marcante para restaurar o modelo de Igreja como Povo de Deus. Na verdade, desde a criação do Sínodo dos Bispos, por S. Paulo VI, em 1965, no final do Concílio Vaticano II, estas assembleias eram compostas apenas de bispos. Esta mudança fará com que 21% dos 370 participantes na próxima Assembleia do Sínodo de outubro sejam não-bispos. Na prática, serão 70 não-bispos e destes, pelo menos metade serão de mulheres, e todos terão direito a voto no documento final, que é um documento de caráter consultivo a ser entregue ao Papa.
3. A sinodalidade é “um elemento constitutivo da Igreja”
“Uma das dimensões mais vigorosas, senão mesmo a mais determinada, do pontificado do Papa Francisco é a revitalização do dinamismo sinodal na vida da Igreja. Evangelii Gaudium inaugura uma nova etapa na receção do Concílio com um declarado incremento da sinodalidade como forma e estilo cristãos próprios”.
Em entrevista, dada em março passado ao La Nacion, um diário argentino, o Papa Francisco declarou que a hierarquia da Igreja era “uma pirâmide invertida” na qual “a única autoridade é a autoridade de “serviço” ao povo de Deus. Ao conceder direito a voto no Sínodo de outubro de 2023 a todos os participantes não-bispos, vemos que as coisas estão mudando no Vaticano e na Igreja e as comunidades cristãs se tornam cada vez mais espaços de comunhão, participação e missão. E sobre este passo em frente, o Papa Francisco não quis deixar lugar a ambiguidades: “os participantes, sejam homens ou mulheres, terão direito a voto. Todos, todos, todos… Esta palavra “todos” é a chave para mim”.
Para refletir e conversar:
1. Como membro da Igreja, que experiências conheço de prática sinodal, onde estejam presentes a comunhão, a participação e a missão?
2. Como grupo particularmente vocacionado para o despertar e a conscientização da dimensão missionária da Igreja, o que está ao nosso alcance fazer por uma Igreja missionária e sinodal?