“Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor». Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir»”.
(Lc. 4,16)
1. A importância do tempo
No cristianismo o tempo tem uma importância fundamental. É ao longo do tempo que se desenvolve a história da salvação, que tem o seu ponto culminante na Encarnação do Filho de Deus e a sua meta no regresso do Filho de Deus no fim dos tempos. Com a vinda de Cristo começam os «últimos tempos»: “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas. Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo” (Heb. 1,1-2). É ao longo do tempo que Deus se relaciona connosco, que nós crescemos e amadurecemos na fé, que descobrimos e vivemos a nossa vocação de Filhos de Deus.
Porque é no tempo que acontece a relação de Deus com a humanidade e com cada um dos seus filhos, nasce a necessidade de santificar este mesmo tempo. Na liturgia da Vigília Pascal, o celebrante abençoa o círio pascal que simboliza Cristo ressuscitado, e enquanto grava os algarismos do ano, proclama: “Cristo, ontem e hoje, Princípio e Fim, Alfa e Ómega. A Ele pertence o tempo e a eternidade. A Ele a glória e o poder para sempre”. O significado deste rito é afirmar que Cristo é o Senhor do tempo. Por isso, a Igreja vive o ano litúrgico, que inicia com o primeiro domingo do Advento e termina na solenidade de Cristo Rei, Senhor do universo e da história.
2. O costume dos Jubileus
É dentro desta atitude de santificar o tempo que nasce o costume dos jubileus, que começou no Antigo Testamento (Lev. 25,1-28) e continua no tempo da Igreja. O termo «jubileu» indica júbilo, alegria; não apenas júbilo interior, mas alegria que se manifesta exteriormente. No Antigo Testamento, o sétimo dia (o sábado) era o dia de “repouso absoluto, com reunião sagrada em honra do Senhor” (Lev. 23,3). A cada sete anos havia o «ano sabático», durante o qual se deixava repousar a terra, eram libertados os escravos e eram perdoadas as dívidas, de acordo com determinadas normas. Depois de sete vezes sete anos, isto é, no quinquagésimo ano, celebrava-se um «ano jubilar»: “Santificareis o quinquagésimo ano, proclamando na vossa terra a liberdade de todos os que a habitam. Este ano será para vós Jubileu; cada um de vós voltará à sua propriedade e à sua família” (Lev. 25, 10). E tudo isto devia ser feito em honra de Deus.
A Igreja continuou esta prática. São Lucas narra-nos que um dia, Jesus, tendo ido à sinagoga de Nazaré, levantou-Se para ler Isaías que anunciava “um ano de graça do Senhor” e no fim declarou que Ele próprio era o Messias anunciado pelo Profeta, e que n’Ele tinha início este «tempo» tão esperado (Lc. 4,21).
3. O Jubileu cristão
Para a Igreja, o Jubileu é este tempo de Cristo, «ano de graça do Senhor». Foi o Papa Bonifácio VIII que proclamou em 1300 o primeiro Jubileu cristão, e determinou que fosse celebrado de 100 em 100 anos em memória do nascimento de Cristo. Atualmente, é celebrado a cada 25 anos. É o chamado Jubileu ordinário. Pode haver jubileu extraordinário, como aconteceu com o Jubileu extraordinário da Misericórdia em 2015. Também na vida de cada cristão se assinalam as datas especiais de nascimento ou dos sacramentos. “De facto, na perspetiva cristã, cada jubileu — seja o 25° aniversário de sacerdócio ou de matrimónio designado «de prata», seja o 50° dito «de ouro», seja ainda o 60° chamado «de diamante» — constitui um particular ano de graça para o indivíduo que recebeu um dos sacramentos elencados. Aquilo que dissemos dos jubileus pessoais pode ser também aplicado às comunidades ou instituições.” (João Paulo II, Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente, 1994).
Nas palavras do Papa Francisco, o Jubileu 2025 “poderá́ favorecer imenso a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema «Peregrinos de esperança». Entretanto, tudo isto será́ possível se formos capazes de recuperar o sentido de fraternidade universal, se não fecharmos os olhos diante do drama da pobreza crescente que impede milhões de homens, mulheres, jovens e crianças de viverem de maneira digna de seres humanos. (…) Por conseguinte, que a dimensão espiritual do Jubileu, que convida à conversão, se combine com estes aspetos fundamentais da vida social, de modo a constituir uma unidade coerente” (Papa Francisco, Carta de 11 de fevereiro de 2022).
Para refletir e conversar:
1. Indicar a importância e significado de celebrar os aniversários significativos da nossa vida.
2. Dar sugestões de iniciativas para celebrar, em dimensão missionária, o Jubileu 2025.