“Nesse mesmo dia, dois dos discípulos iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús, que ficava a cerca de duas léguas de Jerusalém; e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, aproximou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de o reconhecer. Disse-lhes Ele: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto caminhais?»”
Lc. 24,13-17
1. Santificar o caminho
Uma das dimensões importantes da vivência de um Jubileu é a Peregrinação. Se o Jubileu evoca a santificação do Tempo, a Peregrinação evoca a santificação do Caminho. A existência humana é descrita como um caminho e a condição da pessoa com fé é descrita como uma peregrinação, como bem resume a carta aos Hebreus: “Não temos aqui morada permanente, mas procuramos a futura” (Hb. 13, 14). A Sagrada Escritura está cheia de referências a esta atitude de pôr-se a caminho para ir aos lugares sagrados, como as grandes peregrinações bíblicas: de Abraão, que por ordem do Senhor deixa a sua terra, Ur dos Caldeus e parte para Canaã (Gn. 12,1-9); do povo de Israel que, conduzido por Moisés, e por ordem do Senhor, deixa o Egito e parte para a Terra Prometida. A partir da experiência do Êxodo, o povo de Israel vai sentir-se sempre peregrino, e sente a necessidade de fazer o caminho de peregrino. Lembremos as peregrinações ao santuário de Betel (Jz. 20, 18), ou ao santuário Silo (cf. 1 Sam 1, 3), mas principalmente a obrigação de ir em peregrinação à cidade santa de Jerusalém onde se conservava a Arca da Aliança. Também Jesus, com Maria e José, foi como peregrino à cidade santa (Lc. 2, 41). São Lucas, de modo especial, descreve-nos o longo caminho ou peregrinação de Jesus para Jerusalém com os seus discípulos (Lc. 9, 51 – 19, 28).
2. De viajante a Peregrino
A experiência de peregrino não é apenas experiência de viajante. Para o peregrino, duas condições tornam sagrada a experiência da viagem: a certeza de que Deus o acompanha durante a caminhada e a existência de uma meta santa, um destino que dá sentido à viagem.
O Evangelho de São Mateus apresenta-nos como últimas palavras de Jesus: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt. 28, 20). Estas palavras recordam o anúncio profético que encontramos no início do mesmo Evangelho: “Hão de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco” (Mateus 1, 23). Deus está connosco e Jesus caminhará connosco todos os dias até ao fim. “No seu caminhar no mundo, o homem nunca está sozinho. Sobretudo o cristão nunca se sente abandonado, porque Jesus nos garante que não nos aguardará apenas no final da nossa longa viagem, mas que nos acompanhará em cada um dos nossos dias. (…) Até quando o Senhor Jesus, que caminha connosco, até quando cuidará de nós? A resposta do Evangelho não deixa margem a dúvidas: até ao fim dos tempos! Passarão os céus, passará a terra, serão anuladas as esperanças humanas, mas a Palavra de Deus é maior do que tudo e não passará. E Ele será o Deus connosco, o Deus Jesus que caminha ao nosso lado. (…) Ao longo do caminho, a promessa de Jesus «Eu estou convosco» leva-nos a estar de pé, erguidos, com esperança, convictos de que o bom Deus já age para realizar aquilo que humanamente parece impossível” (Papa Francisco, audiência de 26.04.2017).
Esta consciência de que Jesus caminha connosco é tão importante, que no início da Igreja a própria comunidade cristã se designava com a palavra «Caminho» (Atos 9,2). E na primeira carta de São Pedro encontramos estas palavras: “caríssimos, rogo-vos como estrangeiros e peregrinos…” (1 Pd. 2,11).
3. O santuário é Cristo
Se a peregrinação tem como destino o templo, o santuário, o objetivo final é o encontro com Deus e com os outros. Para o cristão, o templo de Jerusalém, meta das grandes peregrinações bíblicas, cede o seu lugar a Jesus Cristo e, em Cristo Ressuscitado, cada um dos crentes torna-se lugar de encontro com Deus. Por isso, quando fazemos uma peregrinação, sabemos que o objetivo, a meta, é sempre encontrarmo-nos com Cristo Ressuscitado, e encontrarmo-nos connosco mesmos na nossa condição de crentes e filhos amados por Deus. O caminho que percorremos até essa meta, se vivido nesse desejo do encontro com Ele, é um bom método de crescimento espiritual e fortificação interior. Por isso é importante cultivar as virtudes do peregrino: ascese, vigilância, oração, arrependimento pelas faltas humanas, preparação interior para a conversão do coração.
Para refletir e conversar:
1. Partilhar experiências de alguma peregrinação que foi marcante na minha caminhada de fé.
2. Como fazer para que a minha vida seja vivida como uma peregrinação?