“Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e de que adquiriste a certeza, bem ciente de quem o aprendeste. Desde a infância conheces a Sagrada Escritura, que te pode instruir, em ordem à salvação pela fé em Cristo Jesus. De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e adequada para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e esteja preparado para toda a obra boa”.
Por ocasião do Concílio Vaticano II havia todo um movimento bíblico, a nível académico, que lançava desafios à Igreja em três linhas:
a) novas traduções da Sagrada Escritura tendo em conta os novos dados da arqueologia, da linguística e do estudo comparado das religiões;
b) necessidade de colaboração com outras igrejas Cristãs para ter traduções ecuménicas da Bíblia;
c) facilitar o acesso dos fiéis leigos à Sagrada Escritura.
Através do documento Dei Verbum, especialmente do seu capítulo sexto, o Concílio vai responder às expectativas e colocar a Sagrada Escritura no centro da vida da Igreja e da evangelização. No dizer do Papa Bento XVI, que participou no Concílio como perito, com a Dei Verbum, “graças ao Papa (Paulo VI) e graças – digamo-lo – à luz do Espírito Santo, que estava presente no Concílio, criou-se um documento que é um dos mais belos e inovadores de todo o Concílio e que deve ser estudado ainda muito mais”.
O Concílio desejou que a palavra de Deus estivesse sempre acessível a todos e gerasse um novo impulso espiritual na vida da Igreja (nn. 22.26), o que veio a acontecer.
2. Importância da Sagrada Escritura
É conhecida a frase de São Jerónimo: “A ignorância da Escritura é ignorância de Cristo”. Com razão a Dei Verbum reafirma que “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera o próprio corpo do Senhor”, e por isso na liturgia distribui o pão da vida a partir das duas mesas: a mesa da Palavra de Deus e a mesa do altar, do corpo de Cristo. Sempre considerou a Sagrada Escritura, “juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé (…). É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura” (nº 21).
Em 2008 realizou-se um Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, na vida e na missão da Igreja. Como fruto dessa reflexão, o Papa Bento XVI publicou em 2010 a importante exortação “Verbum Domini”. Aí se incentivou o incremento da animação bíblica de toda a pastoral: “Não se trata simplesmente de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que Se comunica a nós na sua Palavra (…). Por isso exorto os pastores e os fiéis a terem em conta a importância desta animação: será o modo melhor também de enfrentar alguns problemas pastorais referidos durante a assembleia sinodal, ligados por exemplo à proliferação de seitas, que difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura. Quando não se formam os fiéis num conhecimento da Bíblia, conforme à fé da Igreja, no sulco da sua Tradição viva, deixa-se efetivamente um vazio pastoral, onde realidades como as seitas podem encontrar fácil terreno para lançar raízes” (nº 73).
3. A missão
Ainda na mesma exortação, “ao exortar todos os fiéis para o anúncio da Palavra divina, os Padres sinodais reafirmaram a necessidade, no nosso tempo também, de um decidido empenho na missão «ad gentes». A Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de «manutenção» para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo. O ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial. Além disso, os Padres exprimiram vivamente a consciência de que a Palavra de Deus é a verdade salvífica, da qual tem necessidade cada homem em todo o tempo. Por isso, o anúncio deve ser explícito. A Igreja deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito (1 Cor 2, 5) e continuar profeticamente a defender o direito e a liberdade das pessoas escutarem a Palavra de Deus, procurando os meios mais eficazes para a proclamar, mesmo sob risco de perseguição. A todos, a Igreja se sente devedora de anunciar a Palavra que salva (Rm. 1, 14)”, (Verbum Domini, 95).
Para refletir e conversar:
1. Qual o tempo que dedico, de forma regular, à leitura orante da Palavra de Deus?
2. Como está a dinamização bíblica na minha paróquia? O que pode ser melhorado?
3. “A Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de «manutenção» para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo”. O que podemos fazer para anunciar a Palavra àqueles que desconhecem o Evangelho?