‘C’est la confiance…’ é o título da Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre Santa Teresinha, publicada a 15 de outubro. Essa confiança é o único caminho que conduz ao Amor e Teresa é ‘perita na ciência do Amor’. Santa Teresinha do Menino Jesus, Irmã Carmelita, também conhecida por Santa Teresa de Lisieux, nasceu há 150 anos. Viveu com radicalidade a sua vocação contemplativa, escreveu muito em pouco tempo (tem um corpo doutrinal com mais de mil páginas escritas, formado pela ‘História de uma Alma’, cartas, poesias, manuscritos autobiográficos, orações, últimas conversas…). e muito mais outros disseram sobre ela. Até teve honras de um grande filme, realizado por Alain Cavalier em 1986, com o simples título ‘Thèrese’. Devo reconhecer que este filme, três anos antes da minha Ordenação, marcou profundamente a minha vocação religiosa e missionária. Lisieux foi o palco central das comemorações deste século e meio de testemunho de vida cristã e de consagração religiosa, mas o mundo inteiro se associou a tão importante celebração. É bom recordar que esta Santa faleceu com apenas 24 anos de idade e foi declarada ‘Doutora da Igreja’! A UNESCO também quis valorizar a sua vida e missão, exaltando-a como mulher de cultura, educação, ciência e paz.
A Igreja deu-lhe, há muito, o título inesperado de ‘Padroeira das Missões’, a provar que a geografia da Fé não quer saber onde andam os pés, mas onde está o coração. É que, como sabemos, as Irmãs Carmelitas são de clausura estrita, pelo que Teresa viveu ‘atrás das grades conventuais’, sempre no isolamento, no silêncio e no recato que caracteriza esta expressão radical da Vida Consagrada. Mas sabe-se que queria muito partir para um Carmelo no Vietname e tal não aconteceu porque a saúde o não permitiu.
O Papa Francisco, na Oração do Angelus, a 1 de outubro, deu uma notícia em primeira mão: ‘Hoje celebramos Santa Teresa do Menino Jesus, Santa Teresinha, a santa da confiança. No próximo dia 15 de outubro será publicada uma Exortação Apostólica sobre a sua mensagem. Rezemos a Santa Teresinha e a Nossa Senhora. Que Santa Teresinha nos ajude a ter confiança e a trabalhar pelas missões’. E assim aconteceu, em pleno Sínodo sobre o caminho Sinodal que Igreja deve percorrer.
Escreveu o Papa Francisco: ‘Teresinha é uma das santas mais conhecidas e amadas em todo o mundo. Como sucede com São Francisco de Assis, é amada até por não-cristãos e não-crentes. Foi também reconhecida pela UNESCO entre as figuras mais significativas para a humanidade contemporânea’. Diz adiante: ‘As últimas páginas da ‘História de uma alma’ são um testamento missionário, exprimem a sua maneira de entender a evangelização por atração, e não por pressão ou proselitismo’. Afirma ainda: ‘A confiança plena, que se torna abandono ao Amor, liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. Nos últimos dias da sua vida, Teresinha insistia nisto: «Creio que nós, que corremos pelo caminho do Amor, não devemos pensar no que nos pode acontecer de doloroso no futuro, porque é faltar à confiança’. A verdade é que, se estamos nas mãos dum Pai que nos ama sem limites, venha o que vier havemos de o ultrapassar e, duma forma ou doutra, cumprir-se-á na nossa vida o seu projeto de amor e de plenitude’.
O P. Daniel Brottier, Espiritano francês beatificado por João Paulo II, foi nomeado há cem anos para relançar a Obra dos Órfãos Aprendizes de Auteuil, em Paris. Encontrou-a num caos total. Dedicou a Instituição e construiu a primeira Capela em honra de Teresa de Lisieux, quando ela acabava apenas de ser Beatificada. A Obra de Auteuil foi crescendo de forma milagrosa e hoje – um século mais tarde – está em muitos países e apoia milhares de jovens em situação de risco. Tudo por milagre da Santa, dizia sempre este Santo Missionário!
O P. Amadeu Martins, que passou parte da vida a investigar os escritos do P. Francisco Libermann (o segundo fundador dos Espiritanos), publicou um estudo inédito da relação entre este missionário e a Santa, a que deu o título: ‘A vossa alma é irmã da minha’ (Edições Carmelo 2005). Foi uma das minhas leituras na semana de Retiro Espiritual que acabo de viver em Spoleto, a cidade onde S. António foi canonizado. Marcou-me o facto de ambos terem vivido sempre na Europa, mas possuírem um coração missionário com o tamanho do mundo inteiro. O Papa Francisco cita, mais uma vez, Teresinha: ‘A caridade deu-me a chave da minha vocação. (…). Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho, os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue… Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações, que o Amor é tudo, que abarca todos os tempos e todos os lugares… numa palavra, que é Eterno! Então, num transporte de alegria delirante, exclamei: ‘Ó Jesus, meu Amor, encontrei finalmente a minha vocação; a minha vocação é o Amor!’ Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e esse lugar, ó meu Deus, fostes Vós que mo destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o Amor. Assim serei tudo…, assim o meu sonho será realizado!’