Caros irmãos e irmãs, bom dia e bem-vindos!
(…) Gostaria de tomar como ponto de partida, para uma breve reflexão, a passagem do profeta Isaías que escolhestes como guia na vossa Congregação: “Vejam, vou fazer algo de novo” (43,19). É uma expressão muito bonita, e faz parte de um texto que começa: “Não temas [Israel], porque eu te resgatei, chamei-te pelo teu nome, tu pertences-me” (Is 43,1). Quando ouço isto, vem-me à mente a mão de Deus que acaricia, acaricia o povo, acaricia cada um de vós: o Deus terno que acaricia sempre. Detenho-me nestas palavras porque me parecem refletir muito bem alguns dos valores fundamentais do vosso carisma: a coragem, a abertura e o abandono à ação do Espírito para que Ele faça algo de novo.
Estes valores são já evidentes na história da vossa primeira fundação: um jovem diácono, com doze companheiros de seminário, impelido pelo Espírito, embarca corajosamente numa aventura inesperada. Renuncia à perspetiva de um futuro tranquilo – poderia ter sido um bom padre de uma família abastada – por uma missão ainda por descobrir, expondo-se a sacrifícios, incompreensões e oposições, com uma saúde muito frágil que o levará a uma morte prematura, antes de poder ver plenamente coroado o seu sonho. Tantos imprevistos que, no entanto, a sua docilidade à ação do Espírito transforma em corajosos “sins”, graças aos quais Deus começa sempre algo de novo nele e, através dele, também nos outros.
De facto, o seu exemplo encontra confirmação nos irmãos que continuam a sua obra, prontos a responder aos novos sinais dos tempos, abraçando primeiro o serviço aos seminaristas pobres, depois as missões populares e, por fim, também o anúncio ad gentes em várias partes do mundo, sem se deixarem amedrontar nem mesmo pela perseguição religiosa desencadeada pela Revolução Francesa.
Uma história bela e rica, da qual hoje, no entanto, recordamos um outro momento especial, em que tudo volta a entrar em jogo. É a segunda fundação, a de 1848, em que o Espírito Santo pede à comunidade que partilhe todos os frutos do seu passado num novo cenário. É tempo de se juntar a novos companheiros, os da Sociedade do Sagrado Coração de Maria, também eles missionários, mas com uma história diferente. Para isso, certamente é necessário superar medos e ciúmes, e os irmãos das duas famílias aceitam o desafio, unindo forças e partilhando o que têm num novo começo.