O primeiro dia do ano começa com o dia mundial da Paz. Dia instituído por Paulo VI há precisamente 50 anos. Na altura o papa queria que esta celebração não ficasse restrito apenas ao âmbito religioso, mas a todos os amantes da paz.
Todos as anos os papas escrevem uma mensagem alusiva e que focam um tema específico. Este ano o tema que o Papa Francisco dá um grande enfoque diz respeito à questão das migrações. Homens, mulheres e crianças que procuram viver em paz. E este viver em paz confunde-se com os objetivos da própria vida expressas numa declaração de um migrante que dizia tão simplesmente: “Não viemos à procura de uma vida melhor, viemos há procura da vida”.
O tema das migrações tem-se tornado particularmente pungente com o afluxo de migrantes para a Europa nos últimos anos e cujas mortes por naufrágio tornaram o mediterrâneo uma espécie de “cemitério”. A isso acresce-se a situação terrível, recentemente denunciada de homens e mulheres, provenientes da África subsaariana vendidos como escravos na Líbia. Num país sem lei e que deixou de ter estruturas que possam garantir o mínimo do respeito pelos direitos humanos.
Recorda-se também a minoria rohingya na Birmânia obrigada a fugir das suas aldeias por perseguição do exército, numa situação em que a própria ONU já qualificou como limpeza étnica. O papa Francisco que na visita que fez ao sudeste asiático em dezembro passado no encontro que fez com algumas famílias vítimas dessas perseguições afirmou: “Em nome daqueles que lhes causaram danos, diante da indiferença do mundo, peço-vos perdão”. Como dizia Edmund Burke, um filósofo inglês do sec. XVIII: “Para que o mal triunfe, basta que os homens bons não façam nada”.
A paz não é simplesmente uma ausência de guerra. Bem o intuiu Paulo VI ao dizer: “Não há paz sem desenvolvimento”. Ou seja, o desenvolvimento integral do homem e das comunidades onde se encontram e que fazem parte é uma aspiração legítima dos próprios povos. Daí resulta da necessidade dos governos locais, apoiados por organismos internacionais, deverem sedimentar a democracia, promovendo instituições fortes e confiáveis para que os povos se sintam legitimamente representados, que trabalhem em prol do bem comum e sintam que as suas vidas e a dos seus descendentes irão melhorar. Por outro lado, o fluxo migratório foi sempre uma constante ao longo da história. O acolhimento de imigrantes deverá ser um gesto também ele de contribuição para a paz.
É esta procura da paz que deverá ser uma preocupação constante de todos os homens bons, para que as palavras dos anjos no anúncio do nascimento de Jesus se tornem uma realidade: “Paz na Terra aos Homens”.
Faustino Monteiro