A ecologia é um tema da moda. Porém, o cuidado da casa comum é muito mais do que um conjunto de preocupações ambientais genéricas ou uns quantos slogans e declarações, por mais válidas que pareçam. Todos concordamos na urgência de soluções alternativas, mas poucos se dispõem a modificar significativamente os hábitos de consumo, conforto e excesso. Defendemos a mudança, desde que possamos continuar a viver da mesma maneira…
Relembremos, a propósito, a visão do Papa Francisco, expressa na encíclica Laudato Si’, um documento fundamental (e de leitura obrigatória!) sobre o tema. Entre muitos outros pontos de enorme pertinência, o Papa apela a uma conversão ecológica, uma mudança radical e convicta a partir de dentro, que nos permita assumir que não somos donos da Terra, mas parte integrante dela enquanto criaturas, seres constituintes da obra da Criação.
Segundo Francisco, o mandato bíblico de «dominar» a terra deve ser entendido como uma revelação da vocação humana de respeitar, cuidar, proteger e preservar. Sendo o Homem o ser mais elevado da Criação, compete-lhe velar pelo lugar que recebeu para nele habitar. Aceitar isto é converter-se ao estatuto de criatura (ignorado pelo antropocentrismo desordenado em que vivemos), é aceitar a figura de um Pai Criador de cujo desígnio todos fazemos parte. E, uma vez aceite esta premissa, o Homem poderá, em tudo o que fizer, colaborar na construção do mundo, ao invés de agir para a destruição de si mesmo.
Esta é a conversão que nos falta para que mudemos, de facto, a nossa vida. O esforço de «cuidar da casa comum» há de ser uma autêntica mobilização interior, uma verdadeira doação de nós mesmos em prol de uma causa que constitui o próprio sentido da nossa existência. Senão, centrados em nós mesmos, agitaremos bandeiras ambientalistas apenas pelo medo de uma destruição iminente. E isso é muito pouco.