Caríssimos confrades, leigos e leigas espiritanos:
Na sua mensagem de Natal, o nosso novo Superior Geral, Alain Mayama, apresenta-nos um conjunto de reflexões que nos apontam múltiplos aspetos da nossa vitalidade e fecundidade missionária, pelos quais devemos estar agradecidos. Em tempos de pandemia e crise mundial, o tom é com frequência depressivo e negativo e isso contrasta com a alegria do Mistério da Encarnação, o “dom inefável” a que se refere S. Paulo (1 Cor 9,15), citado por Alain Mayama. Em tempo de Natal, é importante retomarmos consciência dessa presença ativa de Deus, assumindo a nossa humanidade e agindo através de nós. “Vejam, vou fazer algo novo!” (Is 43, 19), a frase inspiradora do Capítulo Geral de Bagamoyo II, continua a ecoar depois do Capítulo e pode ser de particular inspiração ao iniciarmos este novo ano de 2022.
Em Bagamoyo, redescobrimos o quanto a nossa congregação está viva e ativa, cheia de sinais de “algo novo” que o Espírito está a operar. Se pensarmos que temos hoje, na Congregação, um total de 1099 jovens em formação inicial para a vida religiosa espiritana, não podemos deixar de nos regozijar com essa novidade que Deus nos oferece. O mesmo se diga no que se refere ao aumento de número e importância dos leigos espiritanos associados, alguns dos quais assumindo posições de liderança decisiva nas suas Províncias. Não são tanto os números, em si mesmos, que nos impressionam, mas sobretudo a vastidão de realidades espiritanas que essas estatísticas manifestam, uma diversidade fecunda que é dom e é desafio de mais comunhão, para melhor missão.
Essa juventude que marca a realidade atual da nossa congregação contrasta com a perceção de envelhecimento que temos no hemisfério norte. Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2022, o Papa Francisco propõe três grandes vias para a construção de uma paz duradoura, sendo a primeira o diálogo entre gerações. Trata-se dessa atitude fundamental de abertura, de escuta e de doação, que atravessa toda a experiência de comunhão e que tem uma expressão maior na comunicação entre gerações. Esta comunicação consubstancia a relação dinâmica que nos propulsiona para a construção do futuro da nossa missão.
Citando Christus vivit 199, o Papa Francisco propõe “visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças. Assim unidos, poderemos aprender uns com os outros”. Parece-me particularmente pertinente esta comunicação entre a memória e a inovação, entre o dom recebido e a construção em curso. Para uma província como a nossa, as palavras do Papa parecem talhadas para nos convidar a renovar a beleza da nossa tradição missionária, respondendo agora aos desafios inéditos, que requerem respostas inéditas.
Olhando para o panorama da nossa realidade espiritana em Portugal, confesso que não deixo de sentir a apreensão própria de quem se dá conta da imensidão dos desafios e dos compromissos missionários, verificando, ao mesmo tempo, a exiguidade dos recursos. Por outro lado, é precisamente a imensidão dos desafios e compromissos que nos aponta igualmente a verdadeira grandeza da nossa missão e da nossa presença missionária em Portugal! Os movimentos espiritanos, como a LIAM e os JSF, as obras sociais relevantes, como a Anima Una e o CEPAC, e tantos outros dinamismo de vida espiritana entre nós, indicam-nos que o caminho que se abre diante de nós é promissor, de horizontes imprevisíveis, e por isso nos convida a uma verdadeira conversão do coração a um Deus missionário que nos convida a confiar n’Ele, a ousar fora dos nossos círculos de antigas seguranças, a segui-l’O nesse movimento que passa da omnipotência à fragilidade do presépio.
Voltaremos a celebrar o Natal em ambiente de restrições sanitárias e com alguma insegurança face a que virá a seguir. Talvez essa precariedade de garantias possa ser uma fecunda oportunidade para crescer na confiança missionária que nos faz perder o medo dos outros e nos abre caminho para uma maior partilha com os leigos, uma maior integração da internacionalidade e da multiculturalidade da nossa província, sinalizando a catolicidade de que somos arautos nesta Igreja local. Talvez a incerteza da crise pandémica nos ajude a continuar a acreditar no meio de um mundo descrente, agradecidos num mundo descontente, cheios de esperança, num mundo medroso, que tem medo dos migrantes, descrê da vida em todas as suas etapas e insiste numa laicidade hostil que desafia os cristãos a uma cada vez mais clara e humilde afirmação da sua fé em Jesus Cristo.
Temos tanto para agradecer! Olhemos para o tanto que fizeram e continuam a fazer os irmãos espiritanos em Portugal, sejam eles religiosos ou leigos! Olhemos para a aventura missionária das Irmãs Missionárias do Espírito Santo, agora quase a concluir o ano jubilar da sua fundação! Que este Natal reavive em nós a urgência da gratidão, para uma Missão que se diga na alegria e no louvor daqueles que acreditam em Deus e nos humanos.
A todos e todas desejo um Natal cheio desta inquietação missionária que fez Deus encarnar; cheio desta ousadia evangélica que enche de alegria todos os seguidores de Jesus. Que 2022 renove em nós, cada vez mais, a gratidão e a audácia da missão!