De 18 a 25 de Janeiro, os cristãos de todo o mundo são de novo convidados a orar pela unidade entre todos os que acreditam em Jesus como Senhor e Salvador. É das Igrejas do Médio Oriente que nos chega, este ano, o tema para esta Semana: “Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo” (Mt. 2, 2). Por ele se evoca o episódio dos magos que, atraídos pelo brilho de uma estrela, procuram o Messias, o rei que havia de nascer, descobrindo-o na pobre gruta de Belém, envolto em panos.
O episódio é cheio de significado, mas também de paradoxos, dado que a demanda dos magos encontra o seu oposto na resistência de Herodes, que se alarma com as notícias de que os três visitantes são portadores e que depois procurará matar Jesus. O pano de fundo é construído com a massa da história humana, com luzes e sombras, com as suas procuras e os seus medos, o deslumbramento e a recusa face ao dom. Ele é também evocativo das tribulações vividas pelos cristãos no Médio Oriente, das difíceis condições em que as suas comunidades sobrevivem e de um testemunho de fé dado, não poucas vezes, com a própria vida. Um testemunho que não pode deixar de nos inquietar e provocar.
Mas são precisamente estas Igrejas – Ortodoxas, Evangélicas, Católica – que, em conjunto, nos instam à confiança, vendo na estrela o sinal da presença fiel de Deus que guia e guarda o seu povo. Ele é a luz eterna que, em Jesus, se fez Homem para iluminar todos os seus filhos e filhas, para lhes dizer do Seu amor capaz de dissipar as mais densas trevas, incluindo as da morte. E Cristo a luz resplandecente do Pai, aquele para quem a estrela conduz, o único capaz de nos abrir um caminho de vida. E, por isso, o único digno de adoração.
O texto evangélico deixa-nos muitas pistas para o nosso caminho ecuménico, tanto enquanto Igrejas como nas nossas próprias atitudes individuais. Na verdade, os magos lembram-nos, de imediato, que Cristo vem para oferecer a todos uma comunhão. Já Pedro lembrava que “Deus não faz acepção de pessoas, mas que, em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça, lhe é agradável (Act. 10, 34-35). E que é desejo que Deus que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (1 Tim. 2, 4). A comunhão, a vida nova proposta por Jesus acolhe todos e todas, na sua diversidade de culturas e etnias, de condições sociais ou pessoais. Assim o fez em toda a sua vida, indo ao encontro dos que estavam à margem, acolhendo, integrando. Soube reconhecer as procuras profundas, mesmo daqueles que eram mal vistos pelas convenções sociais ou religiosas. Os magos, vindos de longe, de fora do povo eleito, reconhecem e acolhem os sinais de Deus. E a sua procura é, por isso, acolhida por Deus.
Esta largueza de coração e esta capacidade de olhar e ler os sinais presentes no mundo seguem a par com a urgência de sair, de ir ao encontro dos outros. Assim o fazem os magos, certos de que respondiam a um chamamento mais profundo. O mesmo somos convidados a fazer hoje, dispondo-nos ao encontro, ao diálogo, a conhecer os outros que, como nós, procuram e adoram a Cristo. A ultrapassar preconceitos e medos, trazendo os tesouros, os dons da nossa tradição eclesial e dispondo-nos a acolher o dom que os outros têm para nós.
Neste caminho, importa relembrar que a estrela não foi um fim em si mesma, mas um instrumento e sinal. Nós próprios, as nossas Igrejas e comunidades, na sua diversidade, tudo é instrumento e sinal de e para este encontro com Cristo. Ele é o grande fim, o ponto de chegada, o caminho, aquele que todos somos chamados a seguir, onde a verdade de Deus se diz e a vida nos é oferecida como dom.
Por último, os magos regressam por outro caminho. O encontro com Jesus leva à conversão, à transformação da vida, à procura de caminhos novos. A unidade e a reconciliação entre os cristãos exigem criatividade, paciência, abertura de coração. Sabemos que é o Espírito que a constrói, na comunhão de todos os que acreditam em Cristo. Por isso, é preciso escutar o que o Espírito diz às Igrejas, e regressar por outros caminhos.
A Semana de Oração conta com diversas celebrações um pouco por todo o país. No Porto, o Grupo Ecuménico local promove um roteiro celebrativo durante a Semana e, em Lisboa, são os jovens quem propõe uma vigília de oração no sábado, dia 22, pelas 21h. A celebração nacional, reunindo o Conselho Português das Igrejas Cristãs (COPIC) e a Comissão da Conferência Episcopal para os assuntos ecuménicos está prevista também para o dia 22, na Sé de Aveiro.
João Luís Fontes