Em Vila da Ponte, o Nacional foi percorrido pela chama do Espírito
Envolvidos pela brisa de domingo que pairava no rio Távora, cerca de 180 jovens receberam uma gerbera cada e pousaram-nas sobre as águas. Eram amarelas, vermelhas ou laranja. Eram das cores do fogo, do fogo do Espírito Santo, particularmente invocado no XXXI Encontro Nacional dos Jovens Sem Fronteiras, organizado pelo grupo de Vila da Ponte, da região Douro, de 11 a 13 de Outubro.
Esse gesto simbólico encerrou um fim-de-semana que procurou fazer justiça ao lema “Abrasados pelo Espírito, abraçados na missão” em todos os momentos: do cenário montado no Expo-salão de Sernancelhe, espaço que acolheu o encontro, ao hino; do convite do padre Diamantino Ataíde a fazer o bem por intercessão do Espírito, na manhã de sábado, às chamas que, no sábado à noite, aqueceram a caminhada da luz pelas ruas de Sernancelhe, a terra da Senhora da Lapa, do escritor Aquilino Ribeiro e da castanha; das rajadas que sopravam em torno da Capela de Nossa Senhora das Necessidades ao calor oferecido pela comunidade de Vila da Ponte, bem a partir do seu coração, o Largo da Praça. “Ao longo do encontro, tentámos ao máximo interligar tudo: os temas das palestras, as orações, mesmo os pequenos objetos que foram entregues, sejam as t-shirts, as velas, ou os porta-chaves, no fim”, explica Samuel Cruz, vice-animador do grupo de Vila da Ponte, formado em 2010.
A intenção de retratar “o amor e a união, em comunhão com o Espírito Santo”, acrescenta o também membro da coordenação JSF Douro, foi uma prioridade estabelecida pelo grupo organizador desde que começou a preparar o evento. Esse trabalho prolongou-se por cerca de um ano e, embora “árduo”, a partir de Junho principalmente, foi também recompensador e graças à “amizade”, ao “respeito” e ao “compromisso” do grupo. “Estamos mesmo felizes. Valeu, sem dúvida, a pena”, confessa Samuel Cruz.
Mais do que qualquer outro termo, a palavra “brasa” marcou o fim de semana. Na tarde de sábado, muitos dos Jovens Sem Fronteiras circulavam por Vila da Ponte gritando “Eu sou uma brasa” – uma forma de assumirem a disponibilidade para serem veículos do Espírito Santo na relação com os outros. Essa ideia foi, aliás, proclamada na eucaristia campal de domingo, presidida pelo Bispo de Lamego, D. António Couto. “Foi uma maneira de sentirmos o tema e não ir para casa esquecidos de que temos de nos manter como brasas vivas. Juntos, abraçados, é que conseguimos ir longe”, considera o vice-animador do grupo de Vila da Ponte.
Essa missão de “abrasar” o espírito de quem esteve presente no XXXI Encontro Nacional foi plenamente cumprida, considera a presidente dos Jovens Sem Fronteiras, Sara Gomes. “Quem cá esteve saiu daqui com a fé reforçada, com a chama acesa”, diz a JSF Carvalhal (Barcelos). “Será muito bom para eles e para o seu grupo, porque muitos deles não estão totalmente representados”.
Esses jovens, oriundos das quatro regiões JSF (Minho, Douro, Centro e Sul), desde Salto (Montalegre) até São Brás de Alportel (Algarve), estiveram em Sernancelhe com o “espírito certo”, diz ainda Sara Gomes; os estreantes quiseram “conhecer o movimento” e “crescer”, mas aqueles que já sabiam bem o que é um Nacional quiseram à mesma viver “a comunhão entre todos, grupo e comunidade”.
Há sempre algo novo num Nacional
O encontro de Vila da Ponte foi o primeiro para Soraia Lourenço, membro do grupo do Turcifal (Torres Vedras), cuja entrada para os JSF foi oficializada em Fevereiro deste ano. Na hora da inscrição, as expectativas não eram “nem muito altas, nem muito baixas”. Mas, pouco depois do lançamento da gerbera à água, os sentimentos da jovem da relativa cautela com quem encarava o Nacional. “Saí daqui com uma lavagem ao coração muito grande. Não digo que saia uma pessoa diferente, porque não mudamos em dois dias. O encontro trouxe-me algum sentido de pertença”, assume. Sentindo-se acompanhada pelas “pessoas certas”, quer no grupo, quer no movimento, Soraia já equaciona a participação num projeto missionário “daqui a um tempo”.
A missão é uma realidade bem conhecida de Gisela Barreiro, dos JSF Godim (Peso da Régua). Com 14 anos de caminho, já acumula uma Ponte (Kalandula, Angola, em 2016), semanas missionárias e 13 Nacionais! Apesar da experiência, todos os encontros “são diferentes” de ano para ano, com “pessoas diferentes”. “Temos sempre algo a aprender e a acrescentar”, diz. A cerca de 50 quilómetros da sua comunidade, Gisela sentiu-se praticamente a “jogar em casa” neste Nacional, no seio de “uma comunidade acolhedora”, que já conhecia.
Tiago Dias
D. Anónio Couto, bispo de Lamego, na Eucaristia de encerramento que teve lugar ao ar livre, junto ao rio, com a participação da comunidade cristã de Vila da Ponte, convidou a assembleia a fazer a experiência daquele leproso curado do Evangelho que conseguiu “perceber que por detrás daquela cura estava o dedo de Deus, o dedo de Jesus de Nazaré”.
“Meus queridos jovens sem fronteiras” – convidou D. António na sua homilia – “percebei sempre que é preciso andarmos no caminho para percebermos, para sentirmos a força do vento de Jesus, a força da cura, a força do amor, a força da alegria, a força da novidade que Jesus traz a este mundo. Jesus é um homem novo que traz a este mundo uma nova maneira de viver. Traz um amor novo sem fronteiras. O amor de Jesus não tem fronteiras, não se confina a um grupinho de amigos…”
“Há aqui uma maneira nova de viver, que vós já saboreais, Jovens Sem Fronteiras… Que o vosso amor seja sem fronteiras!.
Deitai abaixo os muros que houver na vossa vida… e fazei com que o amor de Jesus, a palavra de Jesus seja sentida no coração de cada ser humano. Essa é que é a grande revolução que ainda não conseguimos operar.”
“A forma de viver de Jesus é ainda completamente nova. Nós ainda vivemos agrupados, em pequenos grupos… o nosso amor, a nossa amizade é partilhada em pequenos grupos, e nós ainda não percebemos que é preciso ir por aí fora… é a caminho. Nós não temos pátria… a nossa pátria é o caminho… pois é aí que encontramos aqueles a quem temos de dizer que Jesus os ama, de uma forma total, sem precisar de premissas.”
“É no caminho que os doentes são curados, é no caminho que todos estes jovens que aqui estão são curados. Portanto, ide! ide! ide! Levai o Senhor Jesus a todos aqueles que encontrardes nos vossos caminhos… os caminhos exteriores, transitivos… e os caminhos intransitivos, do coração. É aí, nos caminhos intransitivos que nos cruzamos uns com os outros… é por aí que passa a riqueza do Evangelho.”
Participaram no Encontro 180 Jovens Sem Fronteiras vindos do Minho ao Algarve. Foram chegando, na noite de sexta-feira, ao Exposalão de Sernancelhe, onde foram calorosamente acolhidos pelo grupo organizador, de Vila da Ponte.
A manhã de Sábado, depois da oração, foi dedicada à partilha e testemunhos, animados pelo lema do encontro “Abrasados pelo Espírito, abraçamos a missão”.
De tarde, divididos em pequenos grupos, os jovens puderam participar em alguns dos vários workshops espalhados por Vila da Ponte, ajudando-os a aprofundar a sua fé e a conhecer melhor o povo local e sua cultura. Todos os grupos se foram depois juntando no Largo da Praça para um momento de convívio com muita música.
Aproximando-se o pôr do sol, todos se dirigiram para o monte para a oração da tarde, na Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, animada pelo grupo de jovens que participou no projeto de voluntariado missionário “Ponte” em São Tomé e Príncipe, no verão passado.
Depois do jantar, já de volta a Sernancelhe, os jovens foram encaminhados pelas ruas da vila, numa criativa e dinâmica “caminhada de luz”, que terminou junto da Igreja Matriz. O dia terminou no Exposalão de Sernancelhe com uma noite de música, dança e muita diversão.
O Domingo começou com a oração da manhã, seguida de um momento de família, com partilhas das atividades de verão, com a participação da ONGD Sol Sem Fronteiras e, como não podia deixar de ser, com a intervenção do P. Pedro Fernandes, provincial dos Espiritanos em Portugal.
O grupo viajou, depois, para Vila da Ponte, onde teve lugar a Eucaristia de Encerramento, presidida por D. António Couto, bispo de Lamego, seguida de um delicioso almoço servido no Largo da Praça.
A atividade terminou junto do rio Távora, onde cada participante foi convidado a uma breve oração pessoal de a depositar uma flor, com as cores vermelhas e laranja do fogo, nas águas do rio.
No final era evidente o sentimento geral de gratidão a Deus, pelos momentos vividos, e ao grupo dos Jovens Sem Fronteiras de Vila da Ponte e todos aqueles que os apoiaram neste empreendimento que implicou grande empenho e criatividade. Valeu a pena.