São Paulo, cidade que não dorme, cidade que mais parece uma selva enorme, mas de pedra. Nesta bela cidade foi celebrada a primeira missa no dia 25 de janeiro de 1554, numa paupérrima e estreitíssima casinha, no dia da conversão de São Paulo e, eis por isso o nome desta cidade enorme. Assim rezam as crónicas da época.
Ao lembrarmos o início da cidade de São Paulo, lembramos todos estes missionários que por aqui calcorrearam morros e vales evangelizando o povo. Certamente, muita coisa vista com o olhar do século XXI, não nos soará bem escutar ou contar, mas temos que assumir essa parte de nossa história. Cidade, onde a população do norte e nordeste migra para tentar a sua sorte. Por isso, cidade dos contrastes. E é neste contexto que o Projeto Ponte 2020+1 assentou arraiais no mês de agosto.
Realidade Social marcada por contrastes!
Tive o privilégio de já ter morado no Brasil em duas realidades diferentes. Primeiro Amazónia – Tefé e por último em São Paulo. Desde essa ocasião para agora a realidade social mudou drasticamente. Não passou assim tanto tempo. Causas são diversas, mas vemos o contraste nítido até na maneira de construir. De um lado altos prédios e logo do lado, mais parecendo uma ilha, pequenos barracos. Como dizia, que as causas são diversas e vão desde a pandemia que assolou o mundo e o Brasil que não foi exceção, mas sobretudo ás medidas adotadas pelos governantes que acabaram por vitimar ainda mais o povo. Políticas que não favorecem o estrato social mais baixo. É triste ver famílias inteiras hoje morando nas ruas em barracas, porque perderam o emprego e não tem como pagar a renda da casa. Foi uma realidade que sempre existiu, mas não tanto como nestes últimos tempos. Caminhar pela Praça da Sé, onde a cidade de São Paulo nasceu e ver a Praça coberta de pessoas andando de um lado para o outro sem perspetivas de melhoras é desafiante para a Igreja e para a sociedade em geral.
Paróquia Santa Teresa de Calcutá! Paróquia nova e Padre novo!
Este foi o nosso pouso durante quase todo o mês de agosto. Esta é uma Paróquia nova que foi erigida em outubro de 2020. Tudo é novo, até o seu primeiro pároco é novo. Esta nova Paróquia foi desmembrada da Paróquia da Santíssima Trindade. Como era bem grande foi dividida. Quando o povo soube que o Bispo queria reorganizar e dividir a Paróquia pediram um Padre que viesse para trabalhar junto com eles. Foi interessante a reação no dia da entrada do novo Pároco quando viram um Padre bem jovem e brincalhão. O povo em uníssono dizia: “Pedimos um Padre e o Bispo nos manda um Padre para acabar de criar”. Hoje o povo tem este jovem Padre como um filho. Amam e estimam o Padre. Mas tem uma queixa: “Pedimos um Padre para trabalhar, mas este se mata a trabalhar e nos mata a nós também”. Com isto lhe valeu o apelido de “tiziu”. “Cadê o Padre Tiziu”? Há um pássaro na região que se chama tiziu e este pássaro não pára nunca. Anda para trás e para a frente. Assim é o Tiziu, padre, como carinhosamente o chamam a brincar, ou melhor o Padre Elson.
Primeira novena em honra da Padroeira Santa Teresa de Calcutá!
Por ser uma Paróquia bem nova, é a primeira vez que a comunidade celebrou a primeira novena em honra da sua padroeira. Foi um momento alto da Paróquia e bem vivido por todos. Teve como tema: “A falta de amor é a maior de todas as pobrezas” e iluminadas pela citação do Evangelho: “Assim como eu vos amei, amai-vos! (Jo. 13,34). Foi uma nova experiência e uma nova dinâmica para esta Igreja bem jovem. Todo o povo se uniu para juntos construir mais e melhor comunidade, tendo por base o amor de Deus. Papa Francisco na sua mensagem para o dia Mundial Missionário no diz que, “Quando experimentamos a força do amor de Deus, quando reconhecemos a sua presença de Pai na nossa vida pessoal e comunitária, não podemos deixar de anunciar e partilhar o que vimos e ouvimos”. É assim que este povo feliz e animado fez e faz para honrar Santa Teresa de Calcutá, grande modelo do amor e da caridade ao jeito e ao estilo de Jesus, pois “fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor”. (Fratelli tutti)
Paróquia jovem e de jovens! Os jovens se sentem em casa!
Foi bonito perceber que por entre estes morros existe uma Igreja viva, dinâmica e em saída, como nos pede o Papa Francisco. Os jovens com quem trabalhamos bem de perto nos mostraram essa bela imagem, não tanto pelas suas palavras, mas pelas vivências de seus testemunhos. Todos estes jovens nos deixaram de coração cheio, pois foi uma experiência marcante em todos os sentidos. Foi lindo e belo presenciar e vivenciar os jovens ficarem uma noite inteira em oração. Dá para perceber que eles se sentem em casa. A Casa de Deus é a sua casa. E eles saem dali animados e encorajados a subirem os morros e a descerem os morros evangelizando com a vida e a ousadia de suas juventudes.
Missão no alto dos morros!
Se no início eu comecei este artigo descrevendo como foi a primeira missa na cidade de São Paulo, aqui eu quero deixar escrito o quão belo foi a primeira missa no alto do morro chamado Ocupação, uma área bem distante da Paróquia, onde o morro vai sendo ocupado por famílias vindas do norte e nordeste. A área em si era e é agreste, mas é no chão destes morros que a vida e a missão acontece.
Ao celebrar a primeira eucaristia no alto deste morro já bem distante da Igreja Matriz, no dia 15 de agosto, dia de Nossa Senhora, eu pude ver alegria de todas aquelas pessoas, que no seu olhar simples queria dizer, o Padre está connosco, a Igreja está connosco. A Igreja se faz caminho nos caminhos deste povo e Nossa Senhora, a Mãe Aparecida, como carinhosamente lhe chamam, abençoa suas vidas com graças e bênçãos.
Favela de Vila Prudente!
Ao escutarmos a palavra favela, logo nos lembra algo degradado e onde moram pessoas pobres. Humanamente falando não nos é tão aprazível, mas é no meio destas favelas que a Igreja resiste e persiste junto com este povo a buscar sua dignidade de cidadãos e filhos de Deus.
Na favela de Vila Prudente trabalha o Pe Assis, um missionário que com seu estilo próprio se identifica com o povo e é um com o povo. Defensor incansável dos pequenos e frágeis da favela e por todos é reconhecido como Pai, amigo, companheiro e por isso, por todo lado onde passa é reconhecido e sempre demora para chegar ao seu destino final, pois tem sempre uma palavra afável para todos.
Projeto Ponte 2020+1! A força da juventude de lá e de cá!
Vida e missão neste chão! No chão desta parcela da igreja pobre e humilde que a todos nos desafia a termos um olhar de esperança e de conforto. Foi uma experiência rica em todos os sentidos. Viemos de coração cheio. Aprendemos mais do que ensinamos. Fizemos caminho juntos. Fomos parceiros com o nosso povo irmão.