«Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.» Oscar Wilde
Deus cala, pelo menos aparentemente, e não oferece nenhuma resposta àqueles que procuramos razões ou explicações, principalmente para o sofrimento dos inocentes ou para o nosso e daqueles que amamos. Diante das grandes catástrofes e males da nossa sociedade continuamos a perguntar-nos… «onde estarão as mãos de Deus?» Perante as nossas súplicas, mais ou menos insistentes, mais ou menos imbuídas de uma fé inquebrantável perguntamos… «por que não me ouves?»
A humanidade, e cada de um, quase sempre sofre sem saber muito bem porquê.
O problema desta ignorância, é que nos deixamos contaminar pela indiferença, pela violência e pelas desigualdades. O sofrimento pode, às vezes, ser causado pela natureza, na maior parte dos casos, acredito, que seja causado pelas pessoas quer seja voluntaria ou involuntariamente. Abundam as notícias que nos falam de injustiças, de fome, de guerras, de morte. No nosso tempo triunfa a força bruta, a lei do poderoso impõe-se. Não se ama a vida, nem se cuida ou se defende. Por isso há muitas e novas formas de escravidão e assim o medo se vai apoderando de milhões de seres humanos. Assim, não raramente, vai sussurrando dentro de nós a pergunta… porquê? «Existes mesmo, ou insisto em falar com o nada?» E, seguindo a eterna tentação… «se existes, dá-me um sinal».
Perante o silêncio de Deus, quantas vezes a escuridão do espírito se torna uma experiência na qual o nosso sentido vivencial de Deus se dilui e desaparece. Ao nível dos nossos sentimentos, pensamentos e imaginação somos incapazes de perceber a Sua Presença na nossa vida. Deus vislumbra-se como um ausente.
No entanto, uma fé madura acaba por nos mostrar que isto se passa apenas ao nível do nosso pensamento e dos nossos sentimentos. Deus não desaparece nem deixa de existir, mas desaparecem sim, os nossos sentimentos anteriores em relação a Deus e a nossa capacidade de sentir essa presença.
Felizmente, Deus existe independentemente dos nossos sentimentos. Por vezes a nossa razão e o nosso coração estão em harmonia com essa realidade e, então, sentimo-lo com fervor. Outras vezes, porém, a nossa realidade é tão dolorosa que toda a nossa razão e emoção se deixam ferir pela dúvida, pelo medo e pela desolação… mas nem por isso significa que Deus não esteja. Talvez não esteja, mais uma vez, como esperado, mas sim como… inesperado e se vá revelando continuamente onde e como não conseguimos logo perceber, mas a constância do amor se encarregará de nos mostrar.
Interessante, se não passarmos ao largo como se fosse algo normal, verificarmos que até Jesus experimentou a ausência de Deus, que ao longo da história do Cristianismo foram inúmeros os grandes difusores da fé que sentiram o seu doloroso silêncio. No entanto, para aqueles que um dia O encontraram, o retorno à certeza da Sua Presença é algo que acontece naturalmente, para uns de uma forma quase instantânea, para outros no ritmo que a sua experiência de amor lhes vai permitindo. Mas acredito que o importante seja que o silêncio temporal de Deus nos leve sempre ao essencial e não ao mero sentimentalismo: o de O encontrarmos no irmão que sofre e não em imagens que O possam representar.
Fátima Monteiro