No dia 8 de setembro, recordamos algo que nos une profundamente como espiritanos: a nossa consagração religiosa. Para mim, para os padres Hugo Ventura e Manuel Semedo, foi um ano especial, pois faz 25 anos que fizemos a nossa profissão religiosa, depois de um ano de noviciado. Foi ainda mais especial porque o P. Manuel Semedo, que agora trabalha em Cabo Verde, teve oportunidade de se juntar a nós nesta ocasião. Na verdade, desde que a Congregação nos enviou cada qual para um canto do mundo (África, América Latina e Ásia), em 2002, que não estávamos os três juntos!
Aproveitámos, então, para ajustarmos a sintonia missionária entre nós e com algumas comunidades que nos viram crescer e apoiaram. Em cada procissão de entrada, olhava para nós e parecia-me ver os três magos do oriente, seguindo uma estrela ao encontro de Jesus. E que tesouros levariam esses magos como presente? – Perguntei-me.
Foi então que me lembrei de uma conferência do saudoso P. Adélio Torres Neiva, a propósito do tricentenário da nossa congregação, onde ele identificava os três pilares da espiritualidade de Claudio Poullart des Places, que celebramos no início deste mês missionário. Pilares que se cruzam com a riqueza dos votos religiosos que fazemos.
O primeiro pilar assenta na docilidade ao Espírito Santo. O Espírito Santo foi passando das tradições onde tinha crescido para o seu coração. Foi um processo de conversão que culminou no retiro que fez em 1701. Quando um jovem inteligente, exímio estudante de direito, preparado para defender causas, se apresenta diante de Deus e diz “eu não vim aqui para me defender, mas para me deixar vencer”, percebemos que algo profundo se passou no seu coração. Estava claro que a “carreira” que queria seguir era a vontade de Deus.
O segundo pilar assenta na mística de pobreza. Claudio sempre foi amigo dos pobres. Ajudou com a sua mesada jovens candidados ao sacerdócio. Mas a verdadeira conversão acontece quando, em 1703, decide viver com eles. A sua casa deixa de ser um recolhimento de mendigos para se tornar um cenáculo onde a pobreza se tornou uma mística e passou a ser vivida como bem-aventurança do Reino.
O último pilar assenta na passagem de uma vida em comum a uma comunhão de vida. Em 1704 vive um momento de crise. Sente-se só para um projeto que o ultrapassa. Abre, então, as mãos e o coração a uma missão partilhada, num só coração e numa só alma, em que o centro não é o coração de Claudio Poullart des Places, mas o coração de Deus que se revela na riqueza da diversidade que comunica.
Que o barro de que são feitos estes vasos não nos impeça de viver e crescer na riqueza do tesouro que levamos!