Com este título, arrisco-me a perder uma grande fatia dos nossos assinantes, que não estão interessados em futebol ou vestem outra camisola. Mas eu não quero falar de futebol.
Neste dia 10 de fevereiro, uma grande fatia da humanidade celebra o Ano Novo Chinês. É uma comemoração carregada de simbolismo e tradições observada não só na China, mas também em diversos outros países do oriente e, de certa maneira, um pouco por todo o lado por onde as suas gentes se espalham.
Na maioria das vezes, esta celebração acontece a poucos dias do início da Quaresma – até porque a definição dos dias de Ano Novo Chinês e da Páscoa seguem princípios lunissolares semelhantes. Este ano não é exceção. Acontece, por vezes, que o Ano Novo Chinês calha mesmo na Quarta-feira de Cinzas, obrigando os bispos locais a adiar a observância do jejum para outro dia.
Cada ano que naquele dia começa está associado a um animal, um signo. São 12, e vão rodando em ciclo. Segundo uma lenda, Buda terá convocado todos os animais para uma celebração de Ano Novo. Apenas 12 compareceram, ganhando um ano cada um, conforme a ordem de chegada. Este ano que agora começa é o do dragão, que chegou em quinto lugar. O dragão é o único que não é propriamente um animal, mas reúne características de diferentes animais (tem garras de águia, por exemplo). Ao contrário das imagens bíblicas, o dragão chinês está frequentemente associado ao bem, à vida e à regeneração. Não cospe fogo, como o retratado nas culturas ocidentais, pelo contrário, é administrador das águas, tão vitais para a segurança e bem-estar dos seres vivos. É um dos seres presentes na criação, segundo a mitologia chinesa. Numa associação livre, diria que o dragão é o equivalente ao espírito que pairava sobre as águas, na cosmogonia bíblica.
De acordo com a astrologia chinesa, o dragão reúne as melhores características, garante do sucesso e prosperidade tão desejados. Mesmo que a maioria dos chineses mais jovens digam que não acreditam nestas coisas, tenho cá a ideia de que este ano nascerão mais crianças do que é habitual. Mas, se o dragão é assim tão bom, porque é que só chegou em quinto na corrida? Porque “se atrasou” a socorrer, com as suas águas, os campesinos em apuros, e, mesmo na reta da meta escolheu socorrer o coelho (o meu signo!) que tinha escorregado e caído no rio, e este acabou por chegar primeiro que o dragão.
Entramos no Ano Novo chinês. Entramos na Quaresma. Não nos deixemos conduzir por oráculos de sorte, mas de graça. Deixemo-nos conduzir pelo Espírito ao deserto, com Jesus, purificando o centro das nossas decisões. Escolhamos o bem, mais do que o orgulho de chegar primeiro.
Diz a astrologia que o dragão específico deste ano é, em primeiro lugar, pacificador. Assim, venham daí muitos “filhos do dragão”!