Há momentos que nos tocam de forma especial. Uns bons, outros maus. Uns, gostaríamos que repetissem vezes sem conta, outros até nos arrepiam quando pensamos que um dia poderão aparecer réplicas. Este é o caso de Moçambique e do seu tristemente célebre IDAÍ, nome de furação.
As desgraças climáticas, frutos de muitas razões (a das alterações que os humanos conseguem provocar com o seu mau comportamento ecológico…é uma dessas razões!), semeiam destruição, pânico e morte por onde passam a correr. O furacão IDAÍ atravessou Moçambique de lado a lado e foi fazer razias ainda no Zimbabwe e no Malawi, países fronteiriços. No fundo, percorreu o lendário ‘corredor da Beira’, começando por afectar (e de que maneira) esta grande cidade marítima do centro de Moçambique.
As imagens que vimos são de arrepiar, fazendo recordar as tristes e arrasadoras cheias que vitimaram mais o sul (a área da capital) na viragem do milénio, há uns vinte anos atrás. Na altura, tive a oportunidade de visitar Moçambique e de ir até ao Maputo e à Matola para ver as consequências das inundações e visitar um campo de acolhimento das vítimas. Mas o furacão de agora parece que passou ainda mais zangado e violento!
Vivi a última Páscoa em Moçambique. No domingo de Ramos e na Quinta-Feira Santa presidi às celebrações na recém-criada Paróquia da Natividade, numa das periferias pobres da Beira. O povo que fugiu da guerra ou veio à procura das oportunidades na cidade acabou por construir na área dos arrozais, sempre cheia de água como esta planta quer para vingar e produzir o grãozinho precioso destas gentes. Ora, já no Domingo de Ramos me disseram que se chovesse não se podia fazer a Procissão. Não choveu, houve Procissão muita animada e cantada, desde o início da área da Paróquia até ao edifício em construção que é a Igreja. Mas, fui ao Chimoio (para visitar a Missão de Inhazónia) e regressei à Beira. Na Quinta Feira Santa choveu e já só conseguimos chegar à Igreja de jipe, tal o nível de água na estrada e nos caminhos! Imagino o que deve ter sido agora e a quantidade de casas levadas pelo vento e pelas águas, ou, pelo menos, inundadas e submersas. Pus, naqueles dias de tempestade, um post no meu facebook com uma foto linda desse Domingo de Ramos que não vou esquecer. Tirei uma foto com algumas das centenas de crianças que estiveram na Missa e é uma alegria olhar para aqueles rostos felizes. Perguntava eu no post: ‘Que é feito do sorriso destas crianças?’. Ainda não sei.
Sendo a quaresma um tempo forte de oração, que ela não falhe em relação a todas estas vítimas. Muitas pessoas morreram, muitíssimas mais ficaram sem casa, sem trabalho, sem bens. Sendo a quaresma um tempo forte de partilha, ousemos abrir bolsas e corações e partilhemos. A Caritas, cujo dia celebramos este domingo, é uma Instituição credível e com capacidade de rápida e eficaz intervenção no terreno. Sejamos generosos!
A Sexta-Feira da Paixão e Morte de Cristo celebrou-se nestas paragens por antecipação. Ajudemos a antecipar também a Páscoa da Ressurreição.