Água! Água significa alegria, frescura, transparência, limpeza, pureza… Jesus pediu água à samaritana. A piscina de Siloé testemunhou curas. A água é de facto essencial ao nosso bem-estar físico e espiritual. Mas não há bela sem senão e, por ser tão importante, é também muito cobiçada e tem dado origem a conflitos pela sua posse, ao longo da História. Nos anos 60, israelitas, jordanos e sírios combateram pelo domínio das cabeceiras dos rios Jordão e Jarmuque, que alimentam lagos e cidades que nos são bem familiares das leituras de Domingo (Mar da Galileia, Tiberíades ou Cafarnaum, por exemplo). Mais recentemente, os diversos beligerantes na guerra civil que flagela a Síria focam-se invariavelmente no domínio de canais, barragens e terras férteis. O resto do mundo está cheio de exemplos parecidos, por vezes sem conflito bélico mas com conflito.
A Bíblia tem passagens muito lindas sobre água. A par de ensinamentos de ciência hidrológica (Nm 20, 9-11; Sl 32, 6), podemos encontrar passagens que testemunham força, conversão, reconciliação e salvação (Juízes 15:18-19, Ct 8:7, Mt 10:42, 2 Reis 2:19-22 e Sl 18:16, entre muitas outras).
Como alguém que tem o privilégio de trabalhar em Ciência, fico como que maravilhado pela existência na Igreja de instituições que, numa abordagem científica – quer natural, quer social ou mesmo missiológica – procuram contribuir para a compreensão e resolução de problemas complexos.
Recentemente, em Novembro de 2018, decorreu em Roma a conferência internacional “A gestão de um recurso comum: acesso a água potável para todos”, organizada pela Pontifícia Universidade Urbaniana. Foi um evento que mereceu uma mensagem encorajadora e desafiante do Papa Francisco, salientando a necessidade de recentrarmos a gestão dos recursos hídricos em referências éticas e princípios de justiça e paz que brotam diretamente dos Evangelhos.
A questão do acesso à água potável é um tema a que o Santo Padre tem demonstrado grande sensibilidade, não apenas na comemoração do Dia Mundial da Água (a 22 de Março) mas em diversas outras ocasiões. No Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (a 1 de Setembro), por exemplo, numa curta mensagem em que aborda muitos outros aspectos relativos à sustentabilidade, a palavra “água” surge por 17 vezes!
Não tenhamos dúvidas de que, à escala humana – e não esqueçamos que a Criação existe há muitíssimo tempo antes de existir Humanidade – a água na sua qualidade de apta para consumo humano é um recurso limitado. Ela varia muito no tempo e no espaço. Algumas povoações do interior de Portugal, sobretudo do Alentejo, sabem-no bem. Mas faltando-nos ou não a água que vem da terra, que nunca nos falte a água viva que vem de Jesus (Jo 7, 38), aquela água que nos permite vencer as dificuldades e os conflitos.