7º Domingo do Tempo Comum
Este título foi escolhido não por referência ao conjunto musical por este nome conhecido, mas porque ele reflete a nossa condição de cristãos: santificados pela presença em nós da Santíssima Trindade, a partir do Batismo, continuamos também habitados pelo pecado. Daí que S. Paulo prefira mais o termo ‘santificação’, que nos aponta para uma caminhada, para um processo a ser realizado ao longo de toda a nossa vida.
Não deixa de ser sintomático que a exigência da santidade já venha do Antigo Testamento – desde a Aliança do Sinai – e dirigida a “toda a comunidade dos filhos de Israel”. Nem podia ser de outra maneira, já que o Deus que connosco se comprometeu em aliança é santo! E Cristo só vem radicalizar esta mesma exigência: “se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus”!
Por isso, a primeira conclusão a retirar é que a vocação à santidade é comum a todos os batizados. Isso mesmo nos foi reafirmado pelo Concílio Vaticano II: “Todos, na Igreja, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: ‘Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação’… É, pois, bem claro que todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 39-40).
Não deixa também de ser significativo que as propostas para esta santificação tenham sobretudo a ver com as relações com os outros humanos: eliminar do nosso coração tudo o que seja ou saiba a ódio, vingança ou ressentimento e ajudar o próximo, é o caminho proposto pelo livro do Levítico, confirmado e reforçado por Cristo com o amor aos próprios inimigos. De facto, só com o bem é que o mal pode ser vencido. Responder ao mal com o mal, só faz crescer a espiral do mal!
Santo, por isso, não é aquele que reza muito, mas o que se torna parecido com o Pai do Céu, que “faz nascer o sol sobre bons e maus, e chover sobre justos e injustos”. Trata-se de uma santidade “que promove, mesmo na sociedade terrena, um teor de vida mais humano” (LG. 40).
A verdadeira santidade também tem pouco a ver com uma espiritualidade angelizante, traduzida em “almas puras”. Ela transforma o nosso ser, em todas as suas dimensões, em morada da Santíssima Trindade: “o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo”.
Por isso, quase dá para falar de uma ‘evolução’ no conceito de santidade:
- passa do simples cumprimento da lei para desafio de um ideal inatingível: “haveis de ser perfeitos, como perfeito é o vosso Pai do Céu”;
- arranca do templo para atingir e inundar toda a nossa vida com o amor de Deus;
- alarga o nosso coração, para que nele caibam não apenas alguns ‘próximos’, mas todos, até os próprios inimigos e aqueles que nos prejudicam ou prejudicaram;
- passa também pelo cuidar com carinho e preservar a mãe-natureza.
Convenhamos que não seria fácil encontrar introdução mais apropriada ao tempo da Quaresma, que se inicia na próxima quarta-feira!