Nas últimas semanas fiz uma experiência, o tipo de experiência sem grande rigor científico nem grande rigor em geral e cuja possível conclusão é de qualquer modo duvidosa. Mesmo assim, lá fui eu, destemido e determinado…mas com um receio não propriamente residual que estava a perder energia e tempo para pouco ou nada.
Numa manhã chuvosa, pois estas coisas só acontecem em manhãs chuvosas, apareceram-me nas sugestões do Youtube dois vídeos, e pelas miniaturas dava para perceber que ambos eram filmagens de um debate entre dois conhecidos intelectuais com opiniões políticas bem vincadas. Surgiu logo uma dúvida: a qual deles vou dar mais uma visualização? Não conhecendo nenhum dos canais, os títulos escolhidos para os ditos vídeos deixaram-me ainda mais perplexo. Resumidamente, num dizia que a personagem A dava uma lição à personagem B, e noutro, afirmava que a B é que dava uma lição à A. Mesmo conteúdo, avaliações diferentes…até aqui nada de extraordinário.
Tendo optado pelo vídeo em que A vencia B, seguidamente, apareciam-me sempre nos sugeridos pela plataforma, apenas vlogs, podcasts e afins, em que a opinião de A era sempre vencedora, digitalmente tinha-me assim tornado num adepto da ideologia de A.
Qual foi o meu espanto, quando decidi rever o debate mas através do canal em que B ganhava ao A, e sem surpresa, os vídeos sugeridos eram a partir daí obviamente favoráveis às opiniões de B.
Foi esta dualidade de critérios que fui experimentando também nas diferentes redes sociais, bastando ler um artigo sobre um certo tema para aparecerem às dezenas outros sobre a mesma problemática ou pelo menos partilhando das mesmas conceções.
Se acredito no que defende A, posso vir a passar semanas a receber apenas notícias que me confortem no apoio a A, cativando-me assim a manter-me mais tempo e potenciando maiores lucros devido sobretudo às publicidades que todo este material arrasta com ele. Sem querer, aos olhos da internet, era considerado como um adepto fervoroso das ideias de A.
Esta situação favorece radicalismos e afasta o diálogo, mantendo-nos sempre numa bolha onde todos pensam, agem e são como nós. Onde está o outro? Onde estão as diferenças? Estar errado ou não, nem importa, o que interessa é que tenho a certeza de ter razão…Afinal quem escolhe? Deixo que o algoritmo me molde opiniões e escolhas ou avanço e decido apenas depois de investigar e ouvir diferentes opiniões? Viver ou não…ao ritmo do algoritmo…