É do mais radical da tradição cristã dizer que ‘sangue de mártires é semente de cristãos’. Em boa verdade, é fácil reconhecer que dar a vida, totalmente, assume a perfeição exigida pelo Evangelho. Quando alguém, em nome da Fé, da verdade, da justiça e da paz é morto, estamos perante o martírio que traduz uma entrega total da vida.
O Vaticano acaba de nos surpreender com o número de missionários assassinados em 2017: 23! Um número que traduz o mau estado do mundo no que diz respeito à liberdade religiosa e aos direitos humanos. Foram martirizados treze padres, uma Religiosa, um Religioso e oito Leigos. Aqui podemos encontrar um indicador de mudança: os Leigos também morrem pela causa do Evangelho e aparecem nestas contas de Roma. A geografia ajuda a avaliar o mundo em que vivemos: onze missionários mortos na América, dez em África e dois na Ásia. Diz o Vaticano que, neste terceiro milénio, já foram contabilizados 424 agentes de pastoral mortos! São números que falam alto e calam fundo!
Sou muito sensível ao martírio que resulta da perseguição, da violência ou da guerra. Nos tempos vividos em Angola, partilhei vida e Missão com alguns Padres, Irmãs e Leigos que foram vítimas da barbaridade que só uma terrível guerra civil é capaz de praticar. Podia citar os nomes dos Padres Abílio Guerra e José Afonso Moreira (Espiritanos); do Padre Albino Saluhaco (Diocesano do Huambo); das Irmãs Lourdes Aguiar (Teresiana) e Maria Joaquim (Espiritana); do seminarista Sassoma (do Huambo); e tantas leigas e tantos leigos que a guerra matou por serem cristãos comprometidos e, por isso mesmo, ferozes adversários da guerra que dizimava o povo e destruía estruturas e colheitas.
O mundo tem de melhorar os indicadores relativos à Liberdade Religiosa e aos Direitos Humanos. Enquanto tal não acontecer, vão surgir sempre novas vítimas que engrossam a lista dos mártires, mas traduzem o estado miserável de um mundo agressivo e intolerante.
Queremos – como tantas vezes tem pedido o Papa Francisco – um mundo marcado pela justiça, paz, amor e alegria, os valores do Reino de Deus. Mas, para tal, temos de cumprir o que disse o profeta Isaías e que está gravado na fachada principal do edifício-sede da ONU em Nova Iorque: ‘das espadas farão relhas de arados e das lanças forjarão foices’!
A Família Espiritana celebra, a 2 de Fevereiro (Dia do Consagrado/a) a memória do P. Francisco Libermann, um dos fundadores. Ele abriu África à Missão e esta opção gerou (e continua a gerar) muitos mártires. Que sejam sementes de Evangelho!