Vivemos um tempo onde a voragem do tempo não torna o tempo presente. Presente tanto no sentido de dádiva como no sentido do aqui e do agora. Um presente que se deixou de celebrar, ao mesmo tempo que se espera ansiosamente um futuro sem a doce esperança da espera, que, por regra, é paciente e necessita de ser tecida e regada. As ligações entre as pessoas ressentem-se disso, porque a celebração é com os outros e sem os outros a espera fica mais amargurada. Daí vivermos também um tempo onde as pessoas se sentem mais solitárias, onde as ligações são mais efémeras e as redes de cooperação são mais frágeis porque precisam de tempo para se sedimentar.
É curioso que as chamadas redes sociais, baseadas nas tecnologias de informação, têm alimentado muito essa vertigem porque, apesar de alargarem um leque de “amizades”, “ligações”, “informações” e tantas outras coisas, são quase sempre entre “aspas”, porque virtuais. E como as opções são tantas, tão depressa se inicia algo como se descarta e se agarra a outra tendência seguinte sem nenhuma coerência nem fio condutor.
Um antigo vice-presidente da maior e mais conhecida rede social, o Facebook, salientou que precisamos de reconhecimento, por isso partilhamos algo nas redes sociais para que outros vejam e comentem. E isso nos dá prazer. Mas como é um prazer momentâneo e de curta-duração, logo sentimos necessidade de voltar a partilhar uma e outra coisa num ciclo vicioso e vazio de significado. Note-se que toda a génese que está por detrás das redes sociais tem como base algo que está muito presente na formação das comunidades humanas: o boato e o mexerico. Palavras que têm um sentido algo pejorativo, mas que segundo Harari (autor de um best seller – “Sapiens: História Breve da Humanidade”) constituiu ao longo dos tempos, uma das bases das comunidades humanas porque, paradoxalmente, permitem perceber com quem devemos cooperar e fortalecer relações (mesmo quando as comadres se zangam).
Hoje as redes sociais virtuais, sem o papel tradicional que os média tinham em termos de mediação com a verificação da informação e consulta de várias fontes, trazem novas preocupações, como a divulgação de notícias falsas e manipulação de informação, constituindo um terreno fértil para alimentar extremismos (tema para abordar noutra altura). No entanto, com toda esta nova realidade, que também uso, a melhor rede social é ainda aquela que se reúne à volta de uma mesa. Com o telemóvel guardado.