«Sentinela, que vês na noite? Sentinela, que vês na noite?»
(Is 21,11)
Ecoa do texto de Is 21,11-12 um oráculo sobre a terra de Dumá e, simultaneamente, sobre o silêncio. A intervenção daquele que chama, ganhando a forma de uma pergunta, rasga o silêncio da noite daquela terra adormecida longe de Deus. Rasga ainda o silêncio da sentinela vigilante, habituada a esperar. A pergunta destrói os mecanismos automáticos da ação e do pensamento. A própria resposta da sentinela é desafiante. Faz o interlocutor sair do registo meramente mecânico e formal, desafiando-o a recolocar a pergunta no tempo e espaço devidos, no tempo e espaço do regresso para Deus. O interlocutor é, portanto, convidado a converter-se à visão, aos tempos e às interpelações de Deus.
Tanto na condução da vida como de um carro, precisamos de um acelerador e de um travão. Temo-nos tornado exímios no acelerador, mas perdemo-nos na vertigem do tempo e do espaço. Se a velocidade é uma qualidade de vencedores, tudo tem de ser rápido. Se a competitividade é uma característica de sucesso, tudo tem de ser competitivo. Enganamo-nos! Todos os processos precisam de um tempo e de um espaço. Mas não de um tempo nem de um espaço quaisquer: o tempo será aquele que dermos para parar perante a interpelação de Deus; e o espaço será precisamente aquele que dispusermos para que Deus aja em nós e através de nós.
Deixemo-nos desafiar a parar nas constatações que nascem da visão: “Sentinela, que vês na noite?” (Is 21,11). Deixemo-nos desafiados a parar nas perguntas que surgem da escuta de uma resposta que provoca: “Se quereis perguntar, perguntai” (Is 21,12). Mas sobretudo, deixemo-nos desafiar à conversão uns para os outros e todos juntos para Deus: “voltai, vinde” (Is 21,12).
Estaremos nós predispostos a voltar para Deus, parando para dar a resposta verdadeira à pergunta essencial? Estaremos nós disponíveis a assumir o diálogo com Deus e com os irmãos como um momento de transformação simultaneamente pessoal e comunitária? Estaremos nós ordenados a saborear as grandes perguntas, para que elas não permaneçam no contexto do mero protocolo do diálogo?
Deixemo-nos desafiar à conversão uns para os outros e todos juntos para Deus: “voltai, vinde” (Is 21,12).
Com Poullart de Places, rezemos:
“Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, que eu adoro com todo o meu coração, com toda a minha alma e com todas as minhas forças, peço-vos que me concedais a fé, a humildade, a castidade, a graça de nada fazer, dizer, pensar, ver, ouvir ou desejar a não ser o que Vós quereis que eu faça, diga, pense, veja, ouça ou deseje. Concedei-me estas graças, meu Deus, com a vossa santa bênção, e que assim, com o meu coração e o meu espírito cheios só de Vós, eu esteja sempre na vossa presença e vos reze continuamente; meu Jesus, sede o nosso Jesus para sempre, sede para sempre o meu Jesus; ficai eternamente em mim, e eu em Vós. Nas vossas mãos entrego o meu espírito e o meu coração por meio da Santíssima Virgem; em nome de Jesus e de Maria”.
(Antologia Espiritana, I pp. 31-32)