Fazer crescer o Povo de Deus numa consciência de eclesialidade, numa vivência de comunhão, numa participação permanentemente em atitude sinodal, o que eu chamei uma pegada laical. (D. Francisco Senra)
O compromisso dos leigos na missão das congregações religiosas, e na igreja em geral, é uma realidade esperançosa que não deixa de crescer em Portugal (seguindo uma tendência de outros países), se bem que não ao mesmo ritmo ou da mesma forma. Preferimos acreditar que se trata de um reconhecimento do papel crescente dos leigos na missão evangelizadora das mesmas e da vontade mútua de partilhar da mesma espiritualidade e carisma, e não apenas remediar, por esta via, a escassez de vocações. Acreditamos que finalmente a visão do Concílio, que há mais de cinquenta anos introduzia de uma forma clara esta missão partilhada, se vai alicerçando de uma forma mais real, vencendo timidamente um clericalismo demasiado enraizado por séculos de abundância, mas… que em virtude, quiçá de uma ação do Espírito, vai escasseando.
Não quero com isto desmerecer a presença dos presbíteros, dos religiosos/as professos, neste modelo de Igreja são imprescindíveis. No entanto, já começam a ser apresentadas novas formas de ser Igreja Local, que só são novidade entre nós, em muitas terras de missão da África ou América Latina este “novo” modelo é uma realidade há muito. Assim, lendo os sinais (dos tempos), temos de reconhecer que um novo modelo de Igreja se avizinha a passos largos. Como será? Não sei… mas sei que os leigos serão essenciais para levar adiante a missão evangelizadora que há mais de dois mil anos começou… precisamente com leigos. Jesus prometeu, e não nos vai deixar ficar mal, «dar-vos-ei pastores» … não disse, no entanto, como seriam esses pastores… a igreja foi-se formando ao sopro do Espírito, sem dúvida, mas também ao sabor do querer humano… e, assim continuará a ser.
Voltemos à ação crescente dos leigos que, para ser de facto eficaz e fiel, exige uma profunda e séria preparação dos mesmos em ordem a favorecer um amadurecimento apostólico, o exercício da liberdade cristã e o emergir dos carismas. A consciência da necessidade de uma vida interior e espirito de responsabilidade perante a Boa Nova e os irmãos a quem são enviados, supõe uma formação espiritual adequada, ainda mais, quando o ambiente cultural frequentemente se orienta em sentido contrário aos valores cristãos.
Não acredito que a missão dos leigos passe por uma clericalização e, muito menos, uma hierarquização destes (perigo eminente que já se verifica em tantos lugares), mas antes um caminhar pelo mundo fora, pelas ruas das cidades e estradas do campo, lado a lado com Cristo, com a força do Espírito, ao encontro do Pai, construindo o seu reino. Os leigos de amanhã, se possível (e se nos deixarem) os de hoje, hão de ser como aqueles de Emaús, pessoas em caminho, desalentadas, sim, mas que encontram um desconhecido que as acompanha e lhes faz arder o coração enquanto lhes fala. Os leigos formarão verdadeiras comunidades de gente que se ama e, por isso, se entreajudam. Convertem, não pelas palavras, mas pelo testemunho… «vede como eles se amam». Que como Jesus falam de Amor com o olhar e com as mãos. Que, mesmo não vivendo na mesma casa, comem do mesmo pão que se parte e reparte por todos. Acredito no futuro da Igreja assim… porque foi assim no Princípio.