30º Domingo do Tempo Comum
O anúncio do fim do exílio em que os Judeus se encontravam e o consequente regresso à terra natal, é feito com imagens de um cortejo triunfal, do qual ninguém está excluído – nem o cego ou coxo, nem a mulher grávida ou aquela que amamenta o seu recém-nascido – pois o caminho a percorrer será plano, carinhosamente preparado por um Deus, que se apresenta como pai para Israel e que faz de Efraim seu filho primogénito.
Este tempo novo, anunciado pelo Profeta, acontece sobretudo em e por Jesus Cristo, “constituído o único sacerdote em favor dos homens nas suas relações com Deus”.
De facto, S. Marcos, na sua narração da cura do cego Bartimeu, dá também grande relevo às circunstâncias em que ela aconteceu: os ‘seguranças’ de Jesus preocupam-se em que nada estrague ou altere a sua saída de Jericó. Por isso, empenham–se em silenciar o grito inoportuno e incómodo daquele pedinte, ainda por cima, cego!
Só que Jesus veio para todos, especialmente para os mais fracos e oprimidos, os excluídos da vida e da sociedade. E, por isso, ordena que o mandem vir até Si. O que se seguiu, ouvimo-lo no texto proclamado: Jesus acolhe e atende aquele homem, cuja vontade firme de quebrar as barreiras injustas da exclusão e de recuperar a visão venceu todas as resistências.
A situação de muitos compatriotas nossos, hoje, não é muito diferente. Empurrados para as margens da vida, sem perspetivas de um futuro mais aliviado e enterrados na noite do desânimo e da incerteza, também eles precisam de uma mensagem de esperança, embrulhada não em palavras estéreis de miragens ingénuas, mas revestida de gestos, de atitudes e de iniciativas que visem minorar o seu sofrimento.
Infelizmente, muitas vezes, cristãos e comunidades cristãs, tal como os discípulos de Jesus, não só não acolhem os seus gritos de socorro, mas tentam silenciá-los, por serem inoportunos e incomodativos, negando-lhes aquele Cristo que não é “incapaz de se compadecer”, porque, “revestido de fraqueza”, percorreu os caminhos da solidão e do abandono, para nos garantir que a todos chama, para, n’Ele e com Ele, serem encontrados novos caminhos de vida.
De facto, não é de ‘seguranças’ e defensores da verdade, brandindo o gládio da excomunhão e do inferno, que o mundo precisa, mas sim de ‘samaritanos’, que, sem ocultar a verdade, amorosamente se compadeçam desta humanidade, cada vez mais carente de quem dela se aproxime para a reconduzir aos caminhos da vida, da graça, da salvação, isto é, a Cristo.
“Senhor, que eu veja!”. Deve ser esta também a nossa oração, pois VER é a condição prévia para nos abalançarmos a qualquer iniciativa. Por isso, todos precisamos de ver, seja para estar mais atentos aos outros, seja para, em conjunto, encontrarmos novos caminhos de vida, novos valores, novos critérios de realização e de felicidade, que não aqueles que nos trouxeram à atual situação e da qual não sairemos por um simples regresso ao passado, mas abrindo caminhos novos, guiados pela luz do Evangelho e pautados pelos valores do Reino de Deus.
Que aos muitos ‘bartimeus’ dos nossos dias não faltem verdadeiros ‘samaritanos’ ao jeito de Jesus, para lhes dar vez e voz!