Missão de Inhazónia, na Diocese de Chimoio
Desde o ano de 1999 que a comunidade espiritana de Inhazonia anima a paróquia de São Paulo de Barue. Esta paróquia está situada na Diocese de Chimoio, no centro-oeste de Moçambique, fazendo fronteira com o Zimbabwe. A Diocese tem uma dimensão geográfica de 61.661km2, cerca de 600km do norte ao sul e 200km de leste a oeste, com 1 911 237 habitantes.
Yves Mathieu
Católicos são minoria
A nossa paróquia tem uma dimensão geográfica de 200 km norte-sul e 200 km este-oeste. A população ronda os 230.000 habitantes. Porém, apenas 1.900 são católicos e 1.220 são catecúmenos. Quando os espiritanos chegaram em 1996, encontraram uma paróquia sem párocos residentes desde há 25 anos. O Padre Francisco Silota, moçambicano, da Congregação dos Padres Brancos que foi depois nomeado primeiro Bispo desta Diocese e que exerceu o seu ministério episcopal de 1990 até 2017, foi o último pároco residente. Juntamente com toda a sua Congregação, fora expulso em 1971 durante a luta da independência. A nível religioso há uma grande presença de comunidades evangélicas. Algumas reconhecidas pelo Conselho Ecuménico das Igrejas de Moçambique, outras de carater local, a que chamamos igrejas familiares. Isto é, facilmente encontramos um pai de família que é pastor duma comunidade de 20 ou 30 pessoas sem qualquer ligação a uma Igreja com reconhecimento mais global. Também há bastantes seitas. Para nós é difícil falar de Religião Tradicional, pois é uma maneira de ser e de pensar que está no fundo de cada coração. Tudo isto nos leva a concluir que a nossa paróquia era uma zona de primeira evangelização quando chegamos e que correspondia ao nosso carisma. Desde muito cedo tomamos a consciência de acolher as sementes do Espírito já encontradas no terreno e levá-las para Deus.
Grande vontade de crescer
A paróquia tem dois distritos, cada um com uma vila em crescimento: Catandica, que com mais de trezentos membros, já tem uma boa comunidade católica dinâmica e Macossa, que sendo ainda pequena vai dando alguns passos de crescimento. Consciente da dificuldade de gerir uma paróquia tão grande, começamos, em 2011, a construir uma secunda missão em Macossa. Nestes distritos, a grande maioria dos nossos paroquianos vivem de rendimentos e de comida que produzem nos seus campos temendo cada ano o risco de fome divido às intempéries. As duas guerras consecutivas (colonial e civil) deixaram o país numa situação de extrema pobreza. Em 2016 quando já começávamos a ver algum crescimento, a violência voltou e enfraqueceu ainda mais a nossa zona de trabalho pastoral. Hoje há uma grande vontade de crescer em todos os sentidos.
Missão de Inhazónia
Parilhar a vida com o povo
Na nossa acção pastoral gostamos de partilhar a vida com o povo, de modo especial, quando visitamos com regularidade as 35 pequenas comunidades de base. A maior parte delas recebe a nossa visita uma vez cada três meses, tanto as que estão ao redor da missão, assim como as que estão mais distantes. Às vezes passamos a noite nas comunidades, celebrando, à volta da fogueira, a alegria de estarmos juntos para louvar o Senhor.
Assim, pouco a pouco, estamos a ver os frutos do trabalho missionário realizado. Este ano ficamos muito felizes de organizar a primeira ordenação sacerdotal de um jovem da nossa paróquia, cerimónia que não se realiza há mais de 25 anos.
Um quarto da superfície da nossa paróquia está situado na montanha onde se fala shona, na fronteira com o Zimbabwe. Uma outra grande parte está situada no vale, na floresta, onde se fala chibarué. Assim, temos de aprender e falar estas Línguas para dialogar com o povo. Porém, a língua principal é o chibarué, falado pelos mabarue. A questão da Língua deu-nos de facto muito trabalho. Tivemos de traduzir as leituras da missa, os catecismos, etc.
Desafios missionários
O grande desafio para a comunidade espiritana, é o de continuar a contribuir para o bem-estar deste povo que anseia pela paz efectiva e por uma estabilidade económico-social. Como missionários gostaríamos de dar às pessoas mais possibilidades de melhorar o seu nível de vida. Isto passa por uma capacitação ou formação humana e cristã que sirva de trampolim para um horizonte de progresso e bem-estar social. Mais do que dar peixe, queremos ensinar a pescar.
Queremos fazer com que a pessoa seja digna, responsável ou seja protagonista da sua própria libertação. Nesse sentido, em 2006, construímos um lar para hospedar alunos a fim de garantir-lhe um espaço de acolhimento onde possam estudar com tranquilidade e preparar-se para um futuro risonho, já que estando na aldeia não teriam a possibilidade de ir mais longe no que toca à formação académica. É o caso de 13 jovens de diversas classes que este ano recebem um apoio escolar no lar da missão. O nosso trabalho pela educação dos jovens passa também por ajudar, com bolsas de estudos universitários dados por doadores e amigos da missão, a um grupo de jovens que querem ir mais longe na formação académica.
A pastoral no hospital e na prisão da vila de Catandica faz parte do nosso dia-a-dia missionário, pois através deste ministério dedicamo-nos àqueles que são pobres, marginalizados, privados da sua liberdade e, portanto, excluídos da sociedade.
Uma outra ocupação na nossa missão é a luta pela autossustentabilidade económica. Neste capítulo dedicamo-nos ao cultivo da terra de diversos produtos e a criação de animais para garantir a nossa subsistência.
A missão espiritana que há 25 anos começou pelas terras de Inhazónia vai dando frutos. A nossa alegria depois destes 25 anos de missão está em ver o povo a crescer na confiança e no amor de Deus e a fazer um grande esforço para se libertar da pobreza.