Foi bom voltarmos a reunir de todas as partes do país e peregrinar juntos até Fátima, sem restrições. Mas foi este grito que levamos a ecoar no nosso coração. D. António Marto, denunciava a tentação que temos na Igreja de dizer apenas “Vinde! Nós abrimos as portas da igreja” – e, porventura, até ficamos deprimidos quando um grande número de pessoas, à boleia da pandemia, vai perdendo o caminho até à igreja – quando, na verdade, sublinhava D. António, citando o Papa Francisco, é Jesus que está a bater à porta das igrejas, mas da parte de dentro, como que a dizer “deixai-me sair!”.
Mais desastroso do que as pessoas perderem o caminho até à igreja seria a Igreja perder o caminho até às pessoas. Não nos esqueçamos que o núcleo do Evangelho começa com uma peregrinação ao contrário, do espaço sagrado para o espaço profano, com a multidão a caminhar de Jerusalém para as periferias do deserto, e aí escutarem a pregação de um leigo, confessarem os seus pecados e receberem um baptismo da reconciliação. Foi aí que encontraram Jesus.
Fátima marca, há muitas décadas, o início do verão da família espiritana. Mas a peregrinação não se fica por aí. Ela continua no regresso a casa e nas diversas iniciativas de missão, em Portugal, e além-fronteiras. Este ano, as atividades abriram com uma iniciativa diferente: uma “digressão sem fronteiras” que, durante uma semana, levou 20 jovens a partilhar a alegria do Evangelho em diversas paróquias do Porto e Braga. Para além de uma inesquecível experiência de grupo, ficaram certamente sementes de Evangelho, anunciado de uma forma criativa e penetrante.
Enquanto escrevo estas linhas, um grupo de Jovens Sem Fronteiras, acompanhados pelo P. Raul Lima, voam até a Guiné-Bissau para mais uma edição do projeto “Ponte”, de voluntariado missionário jovem, que se realiza em Caió durante o mês de agosto. O projeto volta assim, 34 anos depois, ao lugar onde começou, bem nas periferias do mundo, mas no coração do carisma espiritano, onde o anúncio do Evangelho junto dos mais pobres e desfavorecidos e daqueles que mal o escutaram e o diálogo inter-religioso são os principais ingredientes missionários. Estou mortinho por ler o testemunho destes jovens na próxima edição de Ação Missionária!
Em setembro, um outro grupo, acompanhado pelo P. Hugo Ventura, partirá para a Diocese de Ponta de Pedras, no Brasil, no âmbito do projeto “Missão Cor Unum”, um projeto de voluntariado aberto a mais jovens e menos jovens de toda a família espiritana.
Cá por dentro, três grupos de Jovens Sem Fronteiras partirão em “semana missionária” para outros tantos lugares do nosso país.
“Deixai-me sair!” – Dizia-nos Cristo.
“Deixa-nos ir contigo!” – Dizemos nós!