4º Domingo da Quaresma
Todos sabemos que “a vida é movimento” e que, como diz o nosso povo, “parar é morrer”. Mas vida, de verdade, é muito mais que isso, caso contrário, a nossa cultura ocidental, com tanta pressa e frenesim, estaria cheia de vida! De facto, para viver não basta mexer-se ou movimentar-se: é preciso ter um rumo, que lhe dê sentido, conteúdo, densidade e unidade.
É disso que nos fala a Palavra do Senhor deste domingo. Na primeira leitura, os Judeus são convidados a pôr-se a caminho da sua terra para, tendo a reconstrução do Templo de Jerusalém como símbolo, refazerem as suas vidas pela renovação da sua relação com Deus, a única fonte de sentido para eles e para todos.
Por sua vez, S. Paulo lembra-nos que fomos criados por Deus, em Jesus Cristo, o Qual nos aponta, como “caminho que devemos seguir”, as boas obras de antemão preparadas.
No evangelho, Jesus fala do ‘seu’ caminho – o caminho da cruz – simbolizado na serpente de bronze, elevada por Moisés no deserto. Paradoxalmente, Jesus apresenta este caminho de morte como o caminho da vida em plenitude: “quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. E o evangelista Lucas com frequência nos relembra: “indo Jesus a caminho de Jerusalém”.
Não se trata apenas daquela morte inexorável (“de cada dia e um dia”), mas do caminho por Deus escolhido para nos manifestar até onde vai o seu amor por nós: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito”. N’Ele, também as nossas mortes de cada dia podem tornar-se em fonte de vida, se forem vividas com sentido e abraçadas com amor e por amor.
É verdade que, para a cultura de hoje, Cristo continuará a ser “loucura e escândalo”, mas, para nós, os crentes, é “poder e sabedoria de Deus”, como nos dizia S. Paulo no passado domingo.
Por isso, este tempo da Quaresma é o tempo oportuno para redefinirmos o rumo da nossa vida e nos “pormos a caminho”, com determinação e confiança. Com efeito, a Páscoa, para a qual caminhamos, garante-nos que este é o caminho certo para a plenitude da vida, para a felicidade.
Com razão, pois, a Igreja, ao longo da Quaresma, repete muitas vezes este refrão: “Vamos todos guiados pela esperança, confiados no braço do Deus forte, entre as luzes e sombras do caminho, que nos conduz à Terra Prometida.”