1. A liturgia como espaço de evangelização
A Igreja possui um rico património litúrgico, fruto de uma tradição que se desenvolveu ao longo dos séculos. Na história das missões, os diversos actores mostram-nos como as acções litúrgicas foram o meio privilegiado de evangelização. Por incrível que pareça, Libermann era uma pessoa com uma visão muito ampla e uma mente aberta às adaptações necessárias para o sucesso do empreendimento missionário. Sabia adaptar as regras litúrgicas, por vezes rigorosas para chegar melhor aos destinatários da evangelização, chegando mesmo a propor iniciativas completamente inovadoras e ousadas.
No seu Memorando, apresentado à Sagrada Congregação da Propaganda da Fé, sobre as missões dos negros, declara:
“Recrutaremos crianças que tenham talento e capacidade, que mostrem até sinais de piedade sincera (…). Dar-lhes-emos uma boa educação, ensinar-lhes-emos os cânticos e as cerimónias da Igreja e faremos deles clérigos, catequistas e professores. (…) Para estes catequistas, propomos a Vossas Eminências a aprovação de uma medida, talvez pouco comum noutras Missões, mas que poderia ter resultados muito felizes na nossa; seria conceder aos bispos o poder de conferir a tonsura e as ordens menores aos catequistas, mesmo que não estejam destinados ao sacerdócio, podendo usar o hábito eclesiástico na igreja e durante as funções clericais. Isto teria várias vantagens. Estes homens seriam fortemente encorajados nos seus esforços para obter o bem espiritual dos seus compatriotas; seriam obrigados a comportar-se de forma exemplar nas suas famílias e entre os seus concidadãos. (…) Estes homens, sendo clérigos menores, poderão substituir em certa medida os padres missionários, presidindo às assembleias dos fiéis, fazendo as orações públicas da manhã e da tarde, cantando os Ofícios dos dias de Festa e dando todas as orientações necessárias ao povo.
Pensámos que não estávamos a agir precipitadamente ao fazer esta proposta a Vossas Eminências, e que estávamos a seguir o espírito da Igreja, que seguiu esta prática desde o início, quando o estado dos cristãos era tal como será agora nos países que temos de evangelizar”. (N.D., VIII, 246-247).
Uma das coisas que a Igreja mais cuidou ao longo da sua história foi a liturgia. Ela exprime o fundamento da fé. Comemora, celebra e dá vida à ação de Deus na vida do ser humano. É na liturgia que a comunidade dos crentes encontra a sua unidade.
A prática e, sobretudo, a vida da liturgia são da maior importância. Libermann foi sensível a este aspeto do trabalho missionário e deu-lhe a importância que merecia.