1. Os sujeitos concretos da ação apostólica de Libermann e dos seus companheiros: os negros pobres das colónias.
O projeto pelo qual Libermann optou definitivamente tinha como objetivo claramente definido um grupo social preciso, diferenciado, verificado e com uma realidade impossível de ignorar: os negros escravizados, muitos deles já libertados mas abandonados à sua sorte. Este grupo social e, sobretudo, a sua situação concreta de vida tornar-se-ão a principal força motivadora do projeto missionário abraçado por Libermann.
Le Vavasseur e Tisserant falavam com tanta veemência e determinação dos seus queridos negros de Bourbon e São Domingos, que se encontravam num estado deplorável de abandono. Ambos queriam que a ‘Obra dos Negros’ fosse a resposta à realidade que lhes consumia a alma. Com a ajuda de Le Vavasseur, que escreveu um ‘Mémoire’ sobre este projeto – um texto que serviu de base ao projeto apresentado à Propaganda Fide – a ilha de Bourbon foi considerada como o primeiro lugar de Missão.
Le Vavasseur explica-o da seguinte forma: “No que diz respeito aos negros, (…) nem os párocos nem os vigários se preocupam com eles. Os patrões só pensam em tirar deles o maior proveito possível”. (N.D., II, 63-64)
Os missionários são necessários, antes de mais, para os negros… Libermann explica-o a Tisserant em 1839:
“Quanto a São Domingos, aconselho-o a não falar disso por agora. O bom Deus voltou as atenções para Bourbon, foi aí que abriu a porta, e não devemos desviar facilmente a nossa atenção do objetivo principal. Falar disto seria, aliás, partilhar e amortecer o ânimo daqueles que o bom Deus encaminhou para os negros de Bourbon; além disso, estes últimos são mais indigentes e mais abandonados do que os de São Domingos” (N.D., I, 649).