1. O despertar missionário de Libermann
Na vida de Libermann, a vocação de seguir Jesus nasceu num contexto de procura de sentido para um aspeto fundamental da sua vida: a dimensão espiritual. Libermann cresceu num ambiente familiar em que a prática religiosa era uma parte fundamental da identidade da família e da comunidade judaica. A religião tornou-se então, por vezes, um instrumento de afirmação social e não tanto uma experiência interior profunda que pudesse orientar uma pessoa para um determinado estilo de vida. Esta situação levou o jovem Libermann a questionar as razões de ser da sua fé. O exemplo dos seus dois irmãos que se tinham convertido ao cristianismo, o contacto com a literatura cristã e a sua permanência fora do ambiente estritamente judaico deram-lhe a oportunidade de experimentar o Deus cristão: “Foi então que, recordando o Deus dos meus pais, me pus de joelhos e lhe pedi que me esclarecesse sobre a verdadeira religião. Supliquei-lhe que, se as crenças dos cristãos fossem verdadeiras, mo desse a conhecer e, se fossem falsas, que me afastasse imediatamente delas. (…) Imediatamente fui iluminado, vi a verdade: a fé penetrou na minha mente e no meu coração (…) Não posso admirar suficientemente a extraordinária mudança que se operou em mim (…). Senti uma coragem e uma força invencíveis para praticar a fé cristã, e senti uma doce afeição por tudo o que tinha a ver com a minha nova crença”.
A ideia do sacerdócio germinou naturalmente no seu espírito. “A minha entrada no seminário de Saint-Sulpice foi para a minha alma um momento de bênção e de alegria”. (Antologia Espiritana, pp. 57-59).
No processo da sua formação para o sacerdócio, Libermann teve várias experiências que orientaram a sua vida futura, e uma delas foi a convivência com colegas seminaristas interessados numa vida apostólica em missões distantes. Nasceu a ideia da ‘Obra dos Negros’, e Libermann, no início, apenas se envolveu no desenvolvimento do projeto. Durante o noviciado eudista de Rennes, Libermann recebe a visita de Mr. de la Brunière, um subdiácono que aderiu ao projeto da ‘Obra dos Negros’ e que passou dois meses com ele.
Libermann escreveu a Le Vavasseur: “O bom Mr. de la Brunière é completamente negro e estou encantado com ele do fundo do meu coração (…). Ontem à noite, veio ver-me para me pedir que oferecesse a Sagrada Comunhão em favor dos pobres e queridos negros (…). Fizemo-lo e o bom Deus deu-me uma pequena luz (…) [esperando que] se Deus quiser, esta pequena centelha aumente e se torne uma luz mais clara”. (Antologia Espiritana, p.100).
Um horizonte se vislumbra no caminho vocacional de Libermann e é apenas o início de um longo percurso de uma vida plenamente vivida na fé.