Na Solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra o Dia Mundial das Comunicações sociais. Se não me engano, é o único dia mundial que foi diretamente instituído pelo Concílio Vaticano II, no decreto Inter Mirifica. E, para não ficar apenas pelas boas intenções, a Instrução Communio et Progressio, de maio de 1971 (Há 50 anos), veio dar resposta ao concílio, oferecendo orientações pastorais concretas para o vivermos. Portanto, não podemos passar ao lado deste dia!
“Vem e verás” (Jo 1, 46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são. É este o tema da mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano. Nela, identifica o risco de “o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua, sem «gastar a sola dos sapatos», sem encontrar pessoas para procurar histórias ou verificar com os próprios olhos determinadas situações”.
O primeiro encontro público do Papa Francisco foi dedicado aos profissionais da comunicação social, dias depois da sua eleição. Não foi uma conferência de imprensa. Foi um encontro, para agradecer o seu trabalho, e para dizer que, para transmitir a sua mensagem, a Igreja tem de estar muito perto, para a transmitir “em pessoa”.
Mas nada escapa às lentes dos jornalistas, e um pormenor (ou talvez algo mais do que isso) saltou-lhes à vista: os sapatos do Papa. Em vez dos tradicionais vermelhos, eram pretos e estavam bem gastos, bem moldados ao pé, habituados a caminhar. Se calhar, foi essa a mensagem para os jornalistas: na comunicação é preciso gastar as solas dos sapatos.
Pouco tempo depois, Francisco fazia a sua primeira viagem para fora de Roma. Não foi longa, mas foi profunda: até Lampedusa. Explicou que ao ler os jornais que davam repetidamente conta de emigrantes mortos no mar “sentia um espinho no coração” e não descansou enquanto não foi até ali “para rezar, para cumprir um gesto de solidariedade, mas também para despertar as nossas consciências a fim de que não se repita o que aconteceu”. Estava agora ainda mais claro que aqueles sapatos não estavam feitos para se passearem pelo “palácio” da Vaticano.
O mundo fechou-nos em casa. Temos muita vontade de sair, de desconfinar. Mas há um desconfinamento ainda mais urgente: se calhar fechamos o mundo em casa; na casa dos nossos pre-conceitos, construídos sobre uma “informação pré-fabricada, «de palácio», autorreferencial, que cada vez menos consegue intercetar a verdade das coisas e a vida concreta das pessoas, e já não é capaz de individuar os fenómenos sociais mais graves nemas energias positivas que se libertam da base da sociedade”.
Vamos lá desconfinar! Gastar as solas dos sapatos e “sair da presunção cómoda do «já sabido» e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspetos.”