Tive, há algum tempo, a oportunidade de fazer uma experiência de silêncio no ambiente de um mosteiro cisterciense. Ali, envolvido na granítica e eloquente mudez, mergulhei nas profundezas de uma quietude que me elevou às alturas de um encontro transcendente. Comigo próprio, antes de mais: o mistério da essência que sou nesta existência em que consigo conhecer-me. Com Deus, por consequência: o Outro exterior a mim que me dá vida e em mim habita. Com a minha missão, enfim: todos os outros (em quem Deus também habita) que esperam que, pela minha existência, eu reparta com eles da minha essência nesse verdadeiro Encontro que é Deus vivo e partilhado na fraternidade humana. O Reino dos Céus.
Não sei se é teologicamente correto o que acabo de escrever. Mas foi o que senti naquela experiência. Percebi melhor, ao saborear os ritmos da vida monástica, a importância do mosteiro como reduto de silêncio, o valor da comunidade que o habita. Porque nos abre as portas à possibilidade de nos (re)encontrarmos. E, sobretudo, porque é referência de uma humanidade que continua a cultivar a interioridade, o mergulho essencial, a oração continuada, contínua. O verdadeiro Encontro.
Neste mundo inquietado por angústias, dividido por conflitos e crises, dilacerado por terrorismos e, até, estremecido por catástrofes naturais, sinto o desafio do silêncio, a premência de uma missão que cale os gritos cruzados que infernizam países e povos e que ajude a humanidade a mergulhar na quietude da sua essência, a dar-se as mãos no abraço de quem vê o Outro em cada um, de quem é capaz de se fazer Um com cada outro. Neste mundo perdido em ruídos e pulverizado em turbilhões de exterioridade, urge um testemunho de silêncio que nos reencaminhe, que nos adentre, que nos grite de novo o Segredo salvador: Jesus Cristo, a Palavra viva, a Cruz habitada, o Sepulcro vazio, o Espírito infundido nos corações cheios. O verdadeiro Encontro.