Habitualmente tendemos a olhar de lado quando alguém nos diz que devemos ser santos. Esta «ética do dever», herança Kantiana, parece não encaixar bem na pós-modernidade tão sedenta do «eu» e de uma liberdade perante tudo e todos que nos deixa voltados sobre nós próprios, numa dinâmica não poucas vezes narcisista e egocêntrica que nos tolhe o olhar para a realidade que nos rodeia. Ficamos hoje tão maravilhados connosco próprios, no que conseguimos almejar, possuir e superar, num exercício nunca acabado de resiliência e de esforço pessoal que corremos a tentação de nos entendermos como senhores do Mundo, donos do cosmos e do tempo.
A proposta cristã de vida, o tal ser santo, aparece na contracorrente de um individualismo cada vez mais exacerbado incapaz de levantar o olhar para lá do espelho.
Sobre o ser santo escreveu o Papa Francisco, em abril passado, uma Exortação Apostólica a que chamou Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e exultai). Nela apresenta a santidade liberta do tal dever ou de um caminho exclusivo de um conjunto de eleitos, para um modo de vida que se descobre e propõe em pequenos gestos, pequenas doses diárias mostrando-a como o modo mais humano de viver:
“Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma tristeza: a de não ser santo” (GE, 34).
Ser santo não é então um fardo, como se de um objetivo impossível de atingir se tratasse, mas sim do modo como permito que a graça de Deus encontre a minha fragilidade. No fundo trata-se da opção de viver centrado em si mesmo ou aberto e atento ao Outro.
Nesta atenção contínua e neste convite a sair de si para transformar o mundo, encontramos a Santidade como um desafio à plenitude humana.
Agora que chega o verão porque não exercitar o ser santo? A fórmula é fácil: Menos tempo no sofá e mais tempo com o Outro. Menos olhar para mim e mais contemplação do mistério da vida na natureza e no Outro. Mais humor, no modo como me entendo na minha fragilidade e circunstância, e menos frustração que, não poucas vezes, é resultado de me haver considerado mais do que aquilo que realmente sou.
Boas Férias!