O Covid-19 dá sinais de tréguas, pelo menos aqui na europa. País está em desconfinamento acelerado e os vários setores de atividade voltam a animar-se. Há três meses estávamos em pânico e fechamos o país com 20 casos e 0 mortes a lamentar. Agora reabrimos quase tudo mesmo com mortes diárias e “surtos” identificados em diversos lugares com níveis mais ou menos graves de contágio.
Não sou médico, bacteriologista nem sei fazer cálculos com base em exponenciais matemáticos que já esqueci há muito. Apenas constato como fomos do desespero “do fim do mundo” já ali, ao virar da esquina, para o histerismo do “já não há nada a temer”.
No meio disto tudo dei comigo a pensar: qual foi o meu papel na pandemia? Que lugar ocupei eu para além do sofá e da Netflix e da repetição, até à exaustão do #vaificartudobem?
Já se começa a perceber que este #vaificartudobem, tão belo ao ouvido e que sossega o espírito, acabou por se revelar falacioso no momento das mudanças fundamentais que a sociedade necessita.
Raros são os exemplos de pessoas e empresas que percebendo o esforço do seu semelhante se apressam a partilhar os bens ou a arranjar maneiras de suprir as necessidades que convidados durante três meses começam agora a emergir.
Qual meu papel no meio disto tudo? Que posso eu fazer para além da partilha quase robotizada do #vaificartudobem em qualquer post ou atualização de estado numa rede social?
Como cristãos, munidos do Espírito e da sua criatividade somos desafiados a encontrar novos caminhos de solidariedade concretos que passam mais pela ação em favor do próximo do que por manifestações de indignação, necessárias, mas inconclusivas.
Sim, não nascemos agora e o mundo não se inicia no DC (depois Covid-19). Precisamos de recuperar o melhor de todos e de cada um para que possa haver futuro além do ciclo biológico como dizia Hannah Arendt.
“Sem tradição – que selecione e nomeie, que transmita e preserve, que indique onde se encontram os tesouros e qual o seu valor – parece não haver nenhuma continuidade consciente no tempo, e portanto, humanamente falando, nem passado bem futuro, mas tão somente a sempre eterna mudança do mundo o ciclo biológico das criaturas que nele vivem”.