Por opção pessoal, o meu telemóvel não tem ligação à internet e nunca ativei alertas noticiosos no meu computador (que uso apenas para tarefas profissionais e trabalhos de pesquisa pessoal). Por isso, e porque um conjunto de atividades escolares me absorveu intensamente nas últimas semanas, afastando-me dos meios de comunicação tradicionais, andei alheado de notícias e distanciado dos «ritmos do mundo».
Quando regressei ao universo informativo, em busca de assunto sobre o qual pudesse escrever este artigo, deparei com temas bem pouco encorajadores: o prolongamento do horror na guerra na Ucrânia, a crise no SNS e a falta de assistência condigna às necessidades de saúde da população, a instabilidade do SEF e o caos nos aeroportos, a violência indiscriminada um pouco por todo o lado (em atos espontâneos ou premeditados), o eminente colapso do edifício financeiro europeu no qual todos estamos (bem ou mal) alojados…
Perante este negro universo revelador das incapacidades e perversidades humanas, concluí que era preferível não ter assunto para escrever e optei, justamente, por partilhar aqui uma das experiências luminosas que me afastou de todo esse pântano negativo: a concretização de uma atividade extracurricular da minha escola, na qual um grupo de alunos realizou um conjunto de sessões de Teatro (preparadas ao longo dos últimos meses), cuja receita reverteu para projetos de desenvolvimento na área da educação e promoção social. Claro que se tratou de um evento insignificante (não foi relatado em noticiários), mas envolveu estudantes e educadores, pais e familiares, membros de uma comunidade educativa numa dinâmica de criação artística e solidariedade, em que fizemos Teatro e oferecemo-lo gratuitamente a um público que lhe atribuiu um valor e o converteu num donativo para os projetos anunciados. Nada mais simples (e, de resto, bem familiar na nossa família espiritana).
Porque é que estas dinâmicas de «humanidade em cadeia», que são fáceis de montar em pequena escala, não se convertem no modus operandi das sociedades, no largo âmbito dos seus horizontes globais? Pessoalmente, acredito que a criatividade artística e a partilha solidária são duas grandes «armas» (as principais?) que podem salvar-nos enquanto comunidade humana. Mais do que as ideologias, as guerras de poder, as ambições individuais ou as estratégias económico-financeiras.
Mas isto é apenas o que escrevo num artigo sem assunto…