5º Domingo da Quaresma
Por mais que nos esforcemos, continuaremos a estranhar muitas vezes o nosso Deus e Aquele que melhor no-lo deu a conhecer – Jesus! De facto, entrar na lógica de Deus é tarefa para toda a nossa vida, é tarefa jamais acabada!
Através de Jeremias, Deus quer reconduzir-nos aos valores da interioridade, do ‘ser’, deixando de lado as preocupações mundanas do ‘parecer’ e do ‘ser visto’.
Mas é sobretudo no evangelho que esta passagem é mais explícita: àqueles gregos que pretendiam ver Jesus, antes de mais e muito naturalmente, para satisfazer uma normal e legítima curiosidade, Cristo apressa-se a desfazer toda e qualquer ilusão ou curiosidade, apontando-lhes como seu o caminho da semente, do ‘desprezo’ da vida, do perder para ganhar.
E o evangelista nem teve a preocupação de registar para nós as impressões que a pessoa de Jesus neles causou. Ao contrário, o texto centra-se nos sentimentos de Jesus perante a proximidade da sua ‘hora’: “se o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto”; “agora a minha alma está perturbada”. É deste modo que Jesus faz a sua autoapresentação, é só deste modo que ele quer ser visto.
Surpreendente também para nós é o texto da Carta aos Hebreus, ao afirmar que “Cristo, na sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas” e que sua a súplica foi atendida. Só que a sua oração não foi apenas “Pai, salva-me desta hora”, mas sobretudo “Pai, glorifica o teu nome!”, isto é, faça-se a tua vontade, realize-se o teu projeto e não o meu!
Talvez seja isto que mais falta à nossa oração. Com efeito, se podemos apresentar ao Senhor todos os nossos desejos e, até, as nossas dúvidas, resistências e revoltas, importa que não omitamos um ‘post-scriptum’ final: “mas aceito o que decidires; o que vier aceitá-lo-ei como vindo das tuas mãos de Pai”!
Seguramente, não era deste modo que também nós mais gostaríamos de ver Jesus. Mas este é que o Jesus, Salvador. Procuremos nesta Quaresma vê-lo deste jeito para irmos aprendendo que o caminho da semente é que é verdadeiramente o caminho da fecundidade, da vida, pois também os nossos sofrimentos e dores, também as nossas mortes e contrariedades de cada dia se podem transformar em caminhos para a verdadeira vida, se, apesar dos clamores e lágrimas que nos arrancam, com Cristo formos capazes de dizer: “Pai, glorifica o teu nome”, isto é, seja feita a tua vontade!