Daniel Brottier é um homem de horizontes largos. Os seus olhos veem par além das trincheiras, para além do horroroso aqui e agora da guerra. Vê muitos caírem na frente de combate, aos milhares, ceifados pela inumana morte. Mas estende o olhar para os que na retaguarda choram com amargura a notícia impiedosa da perda de um ente querido. São muitas as cartas que então escreveu às viúvas da guerra, procurando incutir-lhes consolação e oferecer-lhes a luz da esperança cristã. Chegaram até nós quase uma vintena dessas missivas de consolação que, quiçá, ao ruido do ribombar da artilharia pesada, redigiu. Deixo-lhe aqui, amigo leitor, uma dessas mensagens de esperança: «Ah! a magnífica esperança cristã! quantos corações partidos ela reteve à beira do desespero! quantas almas guardou no dever de viver útil, corajosamente, até ao fim, contra a tentação de desperdiçar a vida ou de dela desertar covardemente!… Sra., perguntai à Mãe de Deus como é que Ela fez para ficar de pé não apenas ao pé da Cruz, mas durante os vinte anos em que a Tradição no-la mostra, quando ajudava, na solidão do seu coração, a organizar a Igreja».
Terminada a guerra, o P. Brottier tem em mente projetos futuros, que ele crê que poderão ser favorecidos pelo seu desempenho como capelão voluntário na frente de combate. Aliás, ainda no fragor da guerra, já ele escrevia assim:
«Trabalho o Souvenir Africain [Catedral Monumento de Dakar], sinto que a guerra, as dificuldades da vida, tudo isso não impedirá a ideia de seguir em frente. Era preciso atualizar a ideia, pois o Souvenir Africain de antes da guerra não tinha, aliás, nenhuma chance de interessar quem quer que fosse- tendo as famílias dificilmente perdido um dos seus em África. Mas agora, pegamos nos mortos da armada colonial, da armada negra, e os marinheiros, caídos durante esta guerra. Procuramos nos arquivos dos regimentos os nomes e as direções das famílias, e encontramos assim muitas pessoas que só pedirão para nos ajudar a construir um santuário que guardará o nome e a memória dos seus queridos mortos».
Nos seis meses que permaneceu, após o Armistício, em território alemão, o P. Brottier impulsionou a obra da União Nacional dos Combatentes, que fizera nascer nas trincheiras. Aquando da desmobilização, a obra contava seiscentos mil aderentes, mas em curto espaço de tempo ultrapassou mais de dois milhões. O Beato Brottier permanecerá Antigo Combatente até à morte. Na verdade, amigo leitor, a guerra marcou-o profundamente.