Durante os treze anos que viveu em Auteuil (1923 a 1936), o P. Daniel Brottier foi um Paipara os adolescentes e crianças que acudiam àquele Lar. Eis, amigo leitor, como ele escreveu em 1924: «Pão para os órfãos! É o grito angustiado de um pai de família que não se pode aguentar, porque a vida está muito cara: o pão a um franco e quarenta não lhe permite fazer face às despesas. Mães de família, vós que conheceis o vosso orçamento para três, quatro, cinco bocas a sustentar por dia, dizei-me a que número chegaríeis, multiplicando por trezentos?»
Eram muitos os donativos que o P. Brottier atraía para a Obra, mas cada vez mais órfãos lhe batiam à porta. E o coração partia-se-lhe de dor, se era obrigado a recusar a entrada na sua Casa a um desses órfãos: «Miseráveis crianças! Pobres vítimas da sorte! Misérias imerecidas, misérias insolúveis para os infelizes garotos que ninguém quer acolher, porque a carga é pesada demais… E eles vêm confiantes a Auteuil! Ouviram dizer que nesta casa a “carga nunca é demasiada”, que, enquanto houver lugar, se dá de comer, de beber e uma cama para dormir a rapazes como eles. Melhor que isso: sabem que aqui lhes ensinam a trabalhar, isto é, a preparar um futuro feliz, no qual mais tarde poderão ter, com uma família sua, alegria e amor… Por isso, que crueldade, quando se torna necessário fazer compreender ao pobre desafortunado, que vinha aqui cheio de esperança, que, apesar da sua miséria, o não podemos receber! “Não há lugar!…” Imaginam o que esta frase significa para o pobre órfão?… E imaginam a angústia do padre que, todos os dias e várias vezes, é obrigado a lançá-la ao rosto de um pobre garoto?»
Por mais nãos que o P. Brottier se visse obrigado a dizer, a verdade é que aumentavam continuamente os órfãos na obra de Auteuil. E não era preciso aumentar apenas o pão sobre as mesas, mas ampliar as oficinas, os dormitórios, os espaços de lazer. Por isso, por muito que fosse, o dinheiro nunca era suficiente. Mas o P. Brottier não se mostrava nunca tacanho, quando se tratava de oferecer boas condições de educação aos seus órfãos: queria oferecer-lhes um Lar condigno, queria fazê-los sentirem-se amados. Fez construir inclusive um salão de cinema, criou uma fanfarra, alargou os pátios de recreio, enfim, tudo o que lhes pudesse proporcionar alegria de viver, convencido de que é «uma prova de afeição, de ternura paternal, o desejo de agradar, pois eles sentem-se amados. É tão bom ser amado!»