Os adolescentes são os órfãos a quem é dada prioridade em Auteuil. Porquê? – perguntará o amigo leitor. Deixemos que o próprio P. Brottier no-lo diga: «Em pleno século XX, há milhares de Órfãos que, quando chegam à idade da aprendizagem, não podem preparar o seu futuro, aprender o ofício que os livraria para sempre da miséria; e isto porque ninguém se quer encarregar do ser incómodo que é um rapaz de treze ou catorze anos, com os seus defeitos e vícios em gérmen, que não tem igual a não ser um apetite difícil de saciar: boca voraz e inútil de que se tem medo, um medo legítimo, admito, mas que deixa o problema sem solução». Precisamente porque é um ser humano à deriva, entregue a si próprio, abandonado, continua o P. Brottier, «é preciso salvá-lo».
São estes os órfãos preferidos do P. Daniel Brottier. Este é, aliás, um dos critérios fundamentais da missão da Congregação do Espírito Santo. Mas há outros a quem ele também dá particular atenção: aqueles que ele chama «os pequenos Comodistas». Ficam em Auteuil apenas dois meses, tempo durante o qual são preparados com ternura e amor para receber a Primeira Comunhão. Curiosamente, era a estes órfãos que mais o P. Brottier pedia orações: «É que as orações dos pequenos Comodistas, dizia ele, podem tudo!… Essas crianças são os nossos melhores advogados, diria mesmo, os para-raios da nossa Casa».
Nem todos os órfãos se sentiam atraídos nem capacitados para a aprendizagem de um ofício. Com um coração de Pai, o P. Brottier decidiu criar um «Lar no Campo», para que aí pudessem aprender a ser bons agricultores: colocava-os em famílias de acolhimento, famílias verdadeiramente cristãs, sob a responsabilidade dos párocos das aldeias.
Durante os treze anos que esteve à frente da Obra dos Órfãos de Auteuil, o P. Daniel Brottier foi mais do que um bom educador, foi um verdadeiro Pai para os seus queridos órfãos, conforme testemunho do P. Le Hunsec: «O P. Brottier, deixou em Auteuil a recordação de um pai. Sabia-se que era severo; às vezes falava aos seus filhos com um tom de autoridade, quando se tratava das grandes linhas da disciplina. Mas nunca repreendeu publicamente uma criança; chamava o delinquente ao seu gabinete. Raramente se resistia à sua bondade. A sua ambição ia mais longe do que alimentar corporalmente as crianças de que era responsável; assegurava-lhes um bem-estar razoável; mas queria sobretudo fazer deles homens e cristãos».