17º Domingo do Tempo Comum
“Pedi e recebereis” é, muito provavelmente, a frase que mais nos provoca nos textos de hoje, até porque, muitas vezes, a sensação que temos é exatamente a oposta: “o Senhor não me ouve”! Por isso, hoje somos convidados a refletir sobre a oração que fazemos, a quem a fazemos e como a fazemos.
Segundo S. Lucas, é o jeito de Jesus rezar que leva os discípulos a pedirem-Lhe que os ensine a orar assim. Além disso, invocam o exemplo de João Batista, pois também ele ensinou os seus discípulos a orar. Dá para perceber que cada mestre espiritual apontava aos seus seguidores um jeito próprio de rezar. Não se trata apenas de cada mestre deixar a sua ‘marca’, mas, sim, da maneira como cada um encarava Deus. Quase se poderia dizer: “diz-me o que rezas e eu dir-te-ei quem é o teu Deus”!
Embora os textos deste Domingo pareçam apontar para uma prevalência da oração de petição, subscrita e estimulada pelo próprio Cristo – “pedi e dar-se-vos-á; quem pede, recebe” – a verdade é que a sua mensagem é muito mais profunda.
Com Abraão, num espantoso antropomorfismo, o que aparece é a oração de intercessão em favor das cidades de Sodoma e Gomorra, apesar da sua gravíssima falta de hospitalidade. Abraão torna-se não apenas o confidente de Deus, mas também aquele que tudo tenta para evitar a execução da ameaça de um castigo fulminante.
No Evangelho, o apelo de Jesus a uma oração confiante e perseverante, tem por finalidade tornar-nos parecidos com o nosso Pai do Céu, que dará em abundância do seu Espírito Santo àqueles que Lhe rezam. De facto, rezar, mais que pedir ou dizer a Deus aquilo que nos faz falta, é abrir-se à sua presença e aceder à sua intimidade, para com Ele sintonizarmos o nosso coração, a nossa inteligência e a nossa vontade.
O papa Francisco propôs uma alteração para a parte final do ‘Pai Nosso’, já atendida por algumas línguas (francesa e inglesa, pelo menos) e que, entre nós, seria “não nos abandones na tentação”, mas que, pessoalmente, preferia “não nos abandonas na tentação”, pois, como o próprio lembrou, “é nossa consolação na hora da prova saber que este vale, desde que Jesus o atravessou, já não está desolado, mas está abençoado pela presença do Filho de Deus: Ele nunca nos abandonará!”
Com efeito, o ‘Pai Nosso’, mais que simples oração, é, acima de tudo, o programa para a nossa vida de cristãos! Esta, de facto, não se mede pelo número de ‘Pai Nossos’ rezados em cada dia, mas pela sua influência no nosso ser e no nosso agir.
Por isso, vale a pena revermos também a forma de rezar o “Pai Nosso”, para não parecer o contrário do que dizemos, pois quase dá para dizer: “diz-me como rezas o ‘Pai Nosso’ e eu te direi quem é o teu Deus”!