«Queridos peregrinos, temos Mãe. Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus.» Papa Francisco
Quem se move um pouco nas redes sociais e vai seguindo o desenrolar do nosso panorama social, não ficará com certeza indiferente à onda crescente de casos que no mínimo nos deixam um pouco estupefactos (não quis usar o termo horrorizados).
A crescente aparição, ou visualização, de gente cada vez mais jovem em comportamentos desumanizantes, de uma violência atroz, de uma falta de reconhecimento da sua dignidade, ou da dignidade do outro é assustadora.
De repente, damos por nós, sociedade de brandos costumes, adormecida numa pasmaceira de “ver passar os navios”, a acordar sobressaltados para uma realidade que há já algumas décadas andamos a querer fazer de conta que não existe, ou cuja responsabilidade será de um hipotético mentor (qual D. Sebastião) que nunca mais aparece.
Se não fosse trágico, não deixaria de ser cómico, como somos capazes de nos alimentarmos dos nossos próprios cadáveres. Toda esta situação tem apenas servido para desenvolver teses, apresentadas em programas televisivos de dúbia qualidade, que por sua vez se traduzem em livros e, no fim, uma caricatura de teorias que não servem para nada, sim, para nada, pois o resultado é alimentar o “bicho” que continua a crescer… por isso, para NADA!
Dei por mim a pensar estas coisas, quando nos últimos dias a palavra «órfãos» me “apareceu” tantas vezes. Foi o Papa, a preparação da catequese do 6º domingo do tempo pascal, a preparação para a celebração do sacramento da Confirmação, enfim… visões de uma sociedade de gente que me parece «órfã».
No livro de Isaías (49, 20-21) encontrei uma referência para o órfão, como sendo um estado de falta de apoio dos pais, um estado de abandono, vulnerabilidade, solidão, desamparo, desabrigo, um sentimento de falta de defesa e um estado de insegurança que sofre aquele que não teve pais capazes de o guiar. Por outro lado, Paulo na primeira carta que escreve a Timóteo (3, 1-5) menciona as consequências da orfandade. Ao falar sobre aqueles que anseiam a tarefa do bispado, coloca a sua catequese no contexto da família. Paulo fala do princípio que diz que quem não governa, não cuida ou o que não cuida, não governa. É deixar órfão de formação aquele que deve ser instruído, cuidado e portanto o resultado é a carência de uma parentalidade responsável tendo como consequências a rebeldia, a anarquia e a falta de respeito pela autoridade.
Outra consequência da falta de parentalidade é a ausência de identidade, devemos considerar que a autoridade é algo que se recebe, se apropria e deve ser dada segundo o princípio da apropriação dos valores e princípios dos povos. Na ausência destes, as nações carecem de linhas orientadoras e elas próprias ficam órfãs, porque se denota por todo o lado uma falta de autoridade e, por tal, escasseiam os valores éticos, morais e espirituais.
Perante esta ausência parental formativa e modeladora, alguém ocupará o lugar deixado vazio… surgirá um dia a pergunta: «onde estavas quando te procurei, quando te necessitei?»
O salmo 112, porém fala-nos dos benefícios para uma nação onde se exerce uma parentalidade responsável. O homem que teme o Senhor será responsável na criação dos seus filhos e eles serão sujeitos à sua autoridade e a sua descendência será bendita.
O termo instruir que encontramos no livro dos Provérbios (22, 6) tem como significado estreitar limites, estabelecer parâmetros de vida e conduta para que mais tarde lhes sirvam de guia e ajuda na tomada de decisões.
Alguns dirão… oh! Deixa-te disso! Pois é… temos pena…
Fátima Monteiro