Pensamos em Manchester no inverno e logo nos vêm à cabeça diversas ideias: chove, faz frio e está nevoeiro; o povo fala inglês; há dois clubes grandes, o United e o City; tudo é muito pragmático e organizado; os carros andam ao contrário; a gente é fria de temperamento; a sociedade é individualista; são todos muito ricos… Bom, uma semana de Manchester nem confirma nem desmente estes ‘preconceitos’, mas já me permitiu perceber algumas coisas bem mais importantes.
Manchester foi o berço da revolução industrial. Por isso mesmo, também foi aqui que ganharam corpo grandes injustiças sociais. A chamada Doutrina Social da Igreja nasceria como resposta aos impactos negativos desta importante revolução. Manchester tem uma longa e rica história: foi fundada pelo romanos há 20 séculos e sempre foi espaço de acolhimento de povos migrantes. Nos últimos tempos, houve os que fugiram da Europa continental durante os combates das guerras mundiais, os que vieram cá parar, vindos do mundo inteiro, após processos de descolonização. Mais recentemente, por efeito dos tempos de globalização que vivemos, chega gente do mundo inteiro à procura das condições de vida de excelência que os media proclamam existir na Grã-Bretanha.
Assim, Manchester é hoje um poliedro de povos, raças e culturas, com um centro da cidade moderno e organizado e periferias mais pobres e socialmente complicadas. É assim em todas as grandes cidades do mundo e esta não é excepção.
Ora, as três comunidades espiritanas estão nas periferias mais pobres. Respondem pela animação pastoral de paróquias e escolas, por trabalhos de apoio a imigrantes, por acompanhamento pastoral de reclusos. A universalidade desta Missão vê-se nos rostos dos espiritanos que cá vivem, originários de Inglaterra, da Nigéria, do Uganda, da Tanzânia, dos Camarões. Tive já a oportunidade de participar em celebrações eucarísticas em duas das paróquias confiadas aos Espiritanos: Santa Ana (onde vivo) e Santa Brígida (mesmo ao lado do estádio do Manchester City). Os cristãos que participam nas Missas são, na sua maioria, de origem estrangeira: da Nigéria ao Burundi, da Polónia aos Camarões, dos Congos a Angola. Celebram com muita alegria, como acontece nas suas terras de origem. E, sobretudo, refrescam a vida cristã numa sociedade britânica muito laicizada e afastada das Igrejas.
Nos próximos dias, vou começar a empenhar-me numa instituição que os espiritanos fundaram para apoiar imigrantes com dificuldades de integração. Não sei se me permitirão visitar os reclusos. Mas irei viver o dia a dia pobre e sofrido das gentes que enchem estas periferias. Manchester impressiona pela quantidade de grandes prédios em construção, sinal de que há muito futuro por estas paragens.
O medo do chamado Brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia) é muito. Ninguém sabe como vai ser o dia 30 de Março, o dia seguinte ao Brexit. Mas os pobres acham que o futuro está enevoado como o tempo. E temos rezado.
Há em Manchester muitos desafios…e não só os que enchem a cidade quando jogam o City ou o United!!!! Vou partilhar alguns deles ao longo das 10 semanas que fico em Manchester.