Não é apenas mais um livro deste autor checo. É uma autobiografia. Mostra os tempos duros da perseguição religiosa pelo regime comunista da ex-Checoslováquia. Conta como redescobriu a Igreja e foi ordenado padre na clandestinidade. Após a queda do Muro de Berlim e abertura política, saltou para a ribalta da política e da Igreja, ocupando cargos importantes e escrevendo livros que seriam traduzidos em muitas línguas.
Fala também das dificuldades de uma Igreja perseguida se adaptar aos novos tempos de liberdade e do impacto forte do ‘ateísmo militante’ na mentalidade checa. Apostou e continua a dedicar-se de alma e coração à Filosofia, Sociologia e Teologia. Conta como viajou e viaja pelo mundo, encontrando pessoas que são inspiração como João Paulo II, o Irmão Roger de Taizé e o Dalai Lama. Peregrinou pelo mundo, visitando Rússia, Suíça, América Latina, Israel, Índia, EUA, Portugal, Tailândia, Nepal, Taiwan, Birmânia, Japão, Vietname, Hong Kong, Egipto, Marrocos, África do Sul, Angola… e Antárctida.
Deixo, para aguçar o apetite desta obra, algumas citações:
“Sempre senti que a minha Missão principal era unir, contribuir pelo menos um pouco para a construção das tão necessárias pontes: entre crentes e ateus, católicos e evangélicos, religiões cristãs e não cristãs, entre a Igreja e a sociedade, a fé e a cultura, a Igreja e a universidade, entre a nossa identidade nacional e europeia, entre gerações, entre as diferentes disciplinas das humanidades, entre a assistência espiritual e a psicoterapia” (p.26).
“Chesterton distinguia claramente um suicida de um mártir: o suicida despreza a vida, enquanto um mártir despreza a morte” (p.82).
“O ano de 1990 foi totalmente revolucionário para mim e significou uma mudança completa no estilo de vida” (p.208).
“A República Checa, ao lado da antiga RDA, foi e continua a ser designada como um dos países mais ateus da Europa, se não de todo o planeta” (p.235).
“A verdade provavelmente deve permanecer nas mãos de Deus. É demasiado grande e, ao mesmo tempo, demasiadamente frágil para as nossas mãos humanas toscas” (p.294).
“O último século do segundo milénio é chamado o mais violento e o mais sombrio de todos” (p.371).
“Já andei por muitos caminhos e vivi muitas experiências, e ainda não estou no fim. Ainda tenho muito que aprender, muito que amadurecer, muito que expiar e muito que agradecer. Eu provavelmente ainda não cumpri a tarefa que me foi confiada, e talvez ainda não a tenha entendido adequadamente” (p.379).
Paulinas, Lisboa, 2018, 383 pp.