«Quem vive na tranquilidade, que seja mais ativo; Quem vive na atividade, que encontre tempo para descansar. A natureza lembra-te que fez o dia e a noite.» (Séneca)
A pausa que propicia o descanso físico e mental é necessária para que o corpo recobre as suas energias. Possibilita o reordenamento das ideias, avaliar as ações ou atividades realizadas durante um determinado período e repensar se o tempo e o esforço destinado a cada coisa nos reconforta emocional e espiritualmente.
Este balanço imprescindível sobre o que se fez a nível laboral, familiar e social, com implicações nos sentimentos e pensamentos, merece a nossa análise serena e tempo suficiente para que possamos contrapor o que fizemos com o que nos propusemos a fazer, o que sentimos ao fazê-lo com o que acreditamos que podíamos e devíamos ter sentido.
Longe de procurar situações de culpabilidade, este tempo de descanso convida ao confronto interior, objetivo e sincero e deve provocar o desejo de mudança, de renovação naqueles aspetos que a nossa consciência nos clama com insistência.
Escutar estas vozes profundas que emanam dos nossos próprios compromissos espirituais, estabelecidos em concordância com o desenvolvimento comunitário, implica uma atitude madura, própria do espirito que percebe que renovar-se é viver.
Em tempos nos quais as redes sociais facilitam o insulto fácil e a incompreensão generalizada, o renovar-se continuamente, sem que exerçamos no nosso dia a dia o juízo, a crítica e a incompreensão pelos erros e/ou atitudes dos outros, a intolerância e o egoísmo, tem por resultado a confiança em nós próprios, a generosidade de sentimentos e a doçura da compreensão.
A vida, as suas lutas e as suas necessidades, convida-nos constantemente a esta transformação. Transformação que tem por objetivo abrir novos horizontes às necessidades da alma.
Sendo que a essência da alma é o amor, origem e finalidade da existência, este só se alcança pelo contínuo renovar do espírito que anseia mover-se por caminhos de maior bondade e aceitação.
Em cada tempo de descanso, se sabemos e queremos usufruir dele, o espírito recobra as suas asas, o tempo e a distância tornam-se flexíveis e somos capazes de planear atividades que contemplem outras facetas do nosso ser como pessoas que desejam espiritualmente enriquecer-se e projetar essa riqueza para bem de todos.
É importante que todos possamos ser arquitetos da nossa existência e consigamos construi-la sobre os fortes pilares do amor, do respeito, da compreensão e da solidariedade, fundamentos essenciais que nos resguardarão dos fortes vendavais, quando as lutas e dificuldades ameacem derrubarem-nos.
Tempo de descanso, tempo de renovação, tempo de assumir compromissos espirituais e de afetividade, na família e na comunidade, aquelas que nos sustêm e constroem em cada dia, em cada hora, em cada tristeza e em cada alegria.
Que em cada período de férias saibamos encontrar um doce e refontalizante descanso. Que de cada descanso encontremos vontade para começar de novo a construir a civilização que se quer de amor.
Fátima Monteiro