As Irmãs Missionárias do Espírito Santo estão de parabéns. Celebram, no dia de Epifania, 100 anos da sua fundação e iniciam um ano de celebrações jubilares animadas pelo lema “O vento sopra onde quer”.
As Espiritanas foram fundadas em França, pela Irmã Eugénie Caps que encontrou nos escritos de Francisco Libermann, fundador dos Missionários do Espírito Santo, grande inspiração para esta obra.
Hoje, as Espiritanas estão espalhadas pelo mundo inteiro, com 50 comunidades missionárias em quatro continentes.
Em África, trabalham em Angola, Cabo Verde, Camarões, Congo (R. do Congo), Guiné-Bissau, Moçambique, Nigéria, República Centro Africana e Senegal.
Na América, trabalham no Brasil, Canadá e Haiti.
Na Ásia, estão nas Filipinas, uma das suas mais recentes missões.
Na Europa trabalham na França, Países Baixos e Portugal, para onde vieram em 1941.
Ir. Glória Lopes
As Irmãs Missionárias do Espírito Santo celebram o Jubileu do seu 1º Centenário de Fundação. O Instituto nasceu em Farschwiller – França, a 6 de janeiro de 1921, festa da Epifania.
Hoje, espalhadas por 4 Continentes, queremos dar graças a Deus pelo Dom da Irmã Eugénie Caps e da obra Unicamente Missionária de que ela foi a sua fundadora.
Quem é a Irmã Eugénie?
Vinda de uma família profundamente cristã, recebeu uma cuidada educação que lhe incutiu um grande sentido de Deus e uma sensibilidade aos mais carenciados, sobretudo os da raça negra. Desde a mais tenra idade sentia em seu coração o desejo de ser missionária para fazer conhecer e amar Jesus Cristo.
Escutemos a Jovem Eugénie: “A minha vocação de religiosa missionária data principalmente de 1912. Sentia-me muito atraída pelos países pagãos. Sentia grande alegria em ler os anais da Propagação da Fé. Um dia ao ler uma poesia : ‘Quero ser Missionário’ encontrada numa revista do Menino Jesus de Praga, fiquei surpreendida e encantada com a coragem revelada nestas linhas. Esta poesia estava assinada “Padre Le Roy – Espiritanos” (mais tarde Bispo D. Le Roy, que ajudou a Congregação).
Um encontro providencial
Em 1913, Eugénie encontra o Rev. Padre Eich, vigário paroquial de Bouzonville, sacerdote muito dedicado, santo e perspicaz. Cedo percebeu que esta jovem era uma pessoa muito piedosa. “O Senhor Padre falou- me muito de Jesus”, dizia Eugénie.
Em plena guerra mundial a jovem Eugénie faz uma profunda experiência espiritual. A 25 de Abril de 1915, após a Sagrada Comunhão, recebe do Senhor uma forte intuição. “Depois da Sagrada Comunhão, Jesus fez-me compreender que desejava uma Nova Obra de Irmãs Missionárias”. Inquieta, ela inquiria de si própria que tal empreendimento seria demasiado grande para ela. Foi uma luta, como afirmara: “vi uma Assembleia de Religiosas que aumentava e se multiplicava à medida que se espalhavam”. Sob os seus olhos e interiormente, compreendeu que devia ser a mãe de uma nova obra de Irmãs Missionárias, que precisava de o dizer ao seu diretor e que os dois se deveriam ocupar dessa Obra. Ela ficou tão surpreendida.
O Padre Eich também tinha planos para uma congregação, com vários ramos, mas Eugénie escreve: «A obra do meu diretor era antes de mais uma obra adaptando-se a todas as necessidades da vida cristã. Eu não compreendia muito bem o que ele queria». Mas, face às proposições do Padre Eich e de algumas das suas companheiras, ela travou um verdadeiro combate para permanecer fiel à intuição recebida de fundar uma congregação missionária.
O mais surpreendente e maravilhoso, é que esta intuição espiritual íntima e pessoal se “transplantou” no coração de outras jovens ao longo dos anos e continua hoje, nós acreditamos!
Terminada a guerra, Eugénie encontrou, numa exposição missionária, os escritos do Padre Libermann e exclamou: “Eis o nosso espírito prontinho”. Ela revive este grito, que trazia em seu coração. Compreende por onde o Espírito de Deus a conduz: Uma verdadeira sintonia de vida em Deus, para Deus e voltada aos outros, no dizer da Eugénie, aos pobres pagãos.
Descobre os Missionários do Espírito Santo, filhos de Libermann, em Neufgrange, e entra em contato com eles.Fala-lhes da sua preocupação e do desejo de ser missionária.
Foi uma caminhada feita e vivida na fé e sob o olhar de Deus, olhar que reconhece cada pessoa pelo seu nome. Foi assim, que Eugénie viveu este momento de diálogo, de troca de cartas com os Padres Espiritanos de Neufgrange e, mais tarde com o então Superior Geral, Mons. Le Roy. Ele mesmo acolhe estas cartas como um sinal do Amor de Deus: “Há necessidade urgente de religiosas missionárias e Deus está a prepará-las.”
“…Jesus disse-me também a propósito do empreendimento: A Obra será bem-sucedida, desejo-a de todo o meu coração”.
Eugénie Caps, Fundadora das Espiritanas
Obra Unicamente Missionária
Foi na festa da Epifania do Senhor, em janeiro de 1921, que a nova OBRA tem início em Farschwiller, diocese de Metz.
As Jovens Eugénie Caps, Elise Muller e Lucie partilham: “Na praça da igreja paroquial, esperavam-nos as irmãs da escola com as crianças, que tinham feriado para a circunstância, e muita gente da aldeia. Entramos na igreja para saudar o Divino Mestre. A seguir toda a gente nos acompanhou até á nossa humilde morada. A Senhora D. Meyer e a sua família, em frente da porta, recebem-nos de braços abertos.
Na Igreja paroquial esperava-nos o Sr. Pe. Eich e, em frente da porta, ele diz-nos: Então, comprometem-se para sempre? SIM, PARA SEMPRE! e a santa missa começou.”
A missão, só é possível sob a moção do Espírito Santo. Não há missão sem o Espírito em ação. Ontem, no início da Igreja apostólica, como força que gera testemunhas; hoje na vida das Congregações como Espírito que santifica e envia.
E assim a 22 de março de 1923, apenas 2 anos após a fundação, somos reconhecidas por Roma como Congregação de Direito Pontifício. Vemos nesta rapidez a obra do Espírito Santo, através da influência que teve nesse assunto, Mons. Le Roy.
Espiritanas de todo o mundo reuniram-se em Fátima, em agosto do ano passado, para o seu 15º Capítulo Geral. 36 irmãs, vindas de 16 países diferentes, em quatro continentes, procuraram reflectir sobre a sua missão e elegeram o seu novo Conselho Geral, presidido pela Irmã Olga Fonseca, de Portugal.
A missão é pôr-se a caminho
Em novembro de 1924, abrimos uma missão na Martinica e em dezembro nos Camarões. Outras aberturas acontecem ao longo do tempo.
De salientar que a 2 de abril de 1931 o Espírito Santo nos abre o horizonte, com a fundação de um grupo de leigos: As Oblatas. Sim, as nossas origens tiveram início numa casa familiar. Agora nós vivemos este sopro novo com os leigos, que partilham e vivem a nossa espiritualidade, a nossa missão.
Neste mesmo ano, a 16 de março, todo o Instituto vive um momento único: entrada no Céu da Irmã Eugénie Caps, aos 38 anos de idade, após 10 anos de fundação. Uma vida curta, mas plena do Amor de Deus: “Abramos espaço ao Espírito de Jesus, esvaziemo-nos de nós próprias e que Jesus renasça nas nossas almas em toda a sua plenitude”. Sim, a Irmã Eugénie nunca se instalou, mas, em total disponibilidade ao querer de Deus, ao Espírito Santo, confiou e entregou-se.
Esta força, ela bebeu-a em Libermann, que centra tudo na ação do Espírito Santo a que ele denomina por ‘Fonte Adorável’. Eugénie quis beber desta ‘Fonte Adorável’: “Pelo Espírito, somos continuamente transformadas. As nossas disposições tornam-se as de Jesus voltado para Seu Pai e constantemente dado aos homens” (N V E nº 18). Só na medida em que o Espírito Santo enche cada irmã do Instituto se vive em liberdade, se faz comunhão e se santificam todas e todos os que nos habitam e a quem somos enviadas.
É pois neste espírito que se abre um novo caminho para as espiritanas, agora em terras lusas. Chegam a Portugal a 26 de agosto de 1941. Na perspetiva da Irmã Eugénie, a Missão enraíza-se na vida e na intimidade: “Eu não posso compreender uma vida ativa que não seja baseada numa vida muito, muito íntima com Deus” (Eugénie, N V E nº 4).
Acreditar na missão é aceitar o desafio de acreditar com os outros, levando e mantendo viva a própria identidade da Igreja missionária.
Assim, em Portugal, no Pentecostes de 1996, as espiritanas iniciam o grupo dos amigos de Eugénie (AMEC). Leigos que connosco partilham a vida, a oração e se interessam pela missão das irmãs no mundo. Um dom, um desafio!
Celebrar 100 anos de vida, de doação, de missão, de partilha, e testemunho, é um verdadeiro Dom e um desafio, que nos cabe proclamar bem alto as maravilhas de Deus.
A Irmã Eugénie Caps, faleceu 10 anos após a fundação, sem nunca ter realizado o sonho de partir em missão, mas a obra estava lançada, enraizada em Deus, suas raízes sólidas e firmes foram e continuam a ser ‘canais’ de missão, hoje. Presentes em 17 países, dando o seu contributo à Igreja Missionária, as Espiritanas procuram responder aos ‘gritos’ dos mais desfavorecidos na Igreja. Apoiadas na fé, na confiança, no acolhimento, somos convocadas a construir a História, a nossa história, segundo o convite de Sua Santidade o Papa Francisco – “Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro, para o qual vos projeta o Espírito a fim de realizar convosco ainda coisas maiores”.
Missão na Guiné-Bissau
Jardim de infância, em Braga
A Vida enraizada em Deus
A Congregação nascente abre-se ao Espírito Santo para O Testemunhar a toda a Humanidade. “Ele é o nosso Espírito Missionário; Espírito de força, de amor, de vigor, de fidelidade, de fraternidade universal, de gratuidade, Espírito de Deus Vivo que nos enche de alegria sinal do Reino que anunciámos” (NVE n7).
O Seu Amor nos desafia a encontrar respostas no profundo da nossa consciência, o recôndito mais sagrado do nosso ser, onde somos habitadas pelo Espírito Santo, que nos ilumina e nos move na busca da vontade do Pai.
Os Atos dos Apóstolos, espelham a comunidade nascente, sob o impulso do Espírito Santo, a partir de Cristo Ressuscitado que a envia a todo o mundo, abrindo-se gradualmente a todos os povos: “Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descera sobre vós, e sereis Minhas Testemunhas…” (Act 1, 8).
O Espírito Santo enviado por Cristo Ressuscitado, inunda com um dinamismo novo todo o Universo, transformando-o e vivificando-o. Sim, na Fé e plenas do dom do Espírito Santo, qual discípulas a caminho de Emaús, que Ele encontra, “lentos de espírito para crer em tudo quanto os profetas nos anunciaram” (Lc. 24,25). Foram as palavras que ELE lançou àqueles que caminhavam desnorteados da vida. Para a Irmã Eugénie, foram e são palavras de vida: “Espirito Santo, Espírito do Deus Vivo, iluminai-nos…”
E assim, em Portugal, as Espiritanas presentes em 4 dioceses, prosseguem a chama da Missão do norte ao sul do País, anunciando e testemunhando Jesus, o Missionário do Pai. Na linha de pensamento de Eugénie, evangelizar significa dedicar-se com todas as forças ao serviço do Evangelho. Toda a missionária é interpelada a viver diretamente da fonte, cuja marca é a santidade e a deixá-la passar para os outros.
Eugénie Caps, intuiu claramente o Carisma Missionário do Instituto e até hoje a nossa Missão orienta-se para os povos que nunca ouviram ou mal ouviram a Mensagem do Evangelho. Um caminho de Santidade no seguimento de Jesus Cristo – “A vida Apostólica é a vida toda de Amor e de Santidade que Filho de Deus viveu sobre a terra e pela qual se sacrificou continuamente para Glória de Seu Pai e para a salvação do mundo.” (R.E.33; NVE nº 4).
Eugénie convida-nos a viver da santidade: “O caminho da santidade, o verdadeiro, não é nada difícil, ficarmos de lado, deitar fora o nosso eu que impede em tudo a ação divina…” Este caminho de santidade é diferente, mas a fonte é sempre Deus, de onde tudo provém. “Sede Santos porque Eu sou Santo”. Eugénie trilhou o caminho da santidade e da missão animada pela ‘Força do Alto’: “Espirito de Deus vivo e eterno iluminai-nos a todas”.
Ainda em embrião acolhemos, a nível do Instituto, um grupo de leigos jovens, para uma caminhada em vista da missão e ou consagração: “Eugénie Jovem”.
É em Igreja, em Congregação e com todos os povos, com quem partilhamos a Missão que nos está confiada, que queremos cantar: “Magnificat”