De Isidro Lamelas e Ana Lúcia Esteves
Afinal de contas, S. Francisco não inventou o Presépio. Mas, em Greccio, perto de Assis, reinventou-o! Foi há 801 anos e, no ano passado, para comemorar o número redondo de 800, Frei Isidro Lamelas (franciscano) e Ana Lúcia Esteves uniram esforços de investigação para editarem este livro sobre o Presépio de S. Francisco de Assis. Dizem os autores: ‘regressado da Terra Santa, em 1220, trouxe consigo o entusiasmo e desejo de tornar ao alcance de todos a maravilha de Belém’.
Palavras do Ministro-Geral
O Prefácio é assinado pelo Ministro Geral dos Franciscanos, Frei Maximo Fusarelli, que começa por dizer que esta celebração natalícia de Francisco está encaixada entre dois grandes momentos a vida do Santo: a Regra de Vida estava redigida, mas ainda não tinha recebido a graça dos Estigmas. Diz adiante: ‘Francisco ensina-nos que, como cristãos, não podemos ficar parados a olhar o Presépio de fora, mas devemos entrar nele e no mistério aí escondido e revelado’. Conclui, mostrando o seu espanto: ‘Que bela inspiração para uma ecologia de raiz cristã. Uma ecologia que une o cuidado integral da pessoa humana e de toda a criação’.
Exaustiva investigação
Na Apresentação, os autores, embora reconheçam que as representações de Natal são muito anteriores a Francisco, dizem que, por causa do seu amor por esta Solenidade, a tradição popular faz do Santo, a partir da celebração de 1223, o ‘inventor do Presépio’, entendido como representação realística do nascimento de Jesus. Para Francisco, o Natal era a Festa das Festas: ‘assinala o início e a certeza da nossa redenção e é, portanto, o começo da Páscoa’.
Os autores trabalham dezasseis documentos históricos relativos a este tema, todos ligados à vida e intervenções do Santo de Assis. No fim, fazem uma análise do Natal de Greccio segundo fontes iconográficas. Esta abordagem faz deste livro uma trabalho de investigação muito bem fundamentado por estes autores que juntam a vertente académica a uma ligação afetiva ao Santo.
Presépio original
A originalidade deste Presépio é que, segundo as fontes da época, não há Menino Jesus, nem Maria nem José: ‘Francisco pede ao Sr. João de Greccio que prepare, para a noite de Natal, uma manjedoura com feno e que leve um boi e um burro, para ladearem o altar onde devia ser celebrada a Missa da Natividade’. Dizem adiante que, para Francisco, ‘seguir Cristo é estar em viagem e com os que se encontram no caminho’. E – afirmam os autores – ‘É oportuno lembrar que o anúncio da paz é elemento essencial da celebração do Natal evangélico e franciscano’.
Francisco mostra-se convencido da estreita ligação entre o Natal e a Eucaristia e, ‘por isso, em Greccio, o rito solene da Eucaristia foi celebrado sobre a manjedoura’. Por isso se afirma que ‘em Greccio não se fez exatamente um presépio, mas quis-se reavivar a memória e atualizar, eucaristicamente, o mistério salvífico de Belém’, uma vez que ‘Francisco acreditava que a Paixão se inicia com o Nascimento do Redentor’.
Ecologia integral
A ligação do Natal à pobreza e a uma ecologia integral é óbvia no ‘Poverello de Assis’ que manifesta o desejo de que ‘no dia de Natal não apenas os pobres pudessem saciar-se à mesa dos ricos – mas todos os animais e aves recebessem também uma abonada ração para festejarem em alegria este dia glorioso’. Por isso os autores concluem que ‘Greccio é a versão performativa do Cântico das Criaturas do Santo de Assis’, pois, ‘o seu Deus é alguém que brinca e dança com as suas criaturas’. Há ainda neste Natal uma lição de despojamento, pois ‘o Pobre de Assis quis ensinar, com gestos, o quanto ganharíamos se, em vez de querermos ser mais ricos, procurássemos ser mais despojados’.
A palavra aos biógrafos
Tomás de Celano foi o primeiro grande biógrafo do Santo. Sobre a celebração natalícia em Greccio escreve: ‘Por fim, chega Francisco. Vê que tudo está a postos e fica radiante. Lá estava a manjedoura com o feno e, junto dela, o boi e o jumento. Ali receberia honras a simplicidade, ali seria a vitória da pobreza, ali se aprenderia melhor a lição da humildade. Greccio seria a nova Belém’. Julião de Espira, outro biógrafo do Santo, diz que ‘no local do Presépio, para comemorar o acontecimento, foi posteriormente construída uma capela, e o altar improvisado que estivera sobre a manjedoura foi consagrado e dedicado a S. Francisco’.
Greccio, a nova Belém
Francisco era diácono, proclamou o Evangelho e fez o sermão: ‘a celebração de Greccio alcançou o seu objetivo: despertar nos corações a consciência da presença de Deus na vida dos homens. Como fruto da emocionante pregação daquele Natal, Cristo ganhou vida no coração de muitos’.
Rieti é a segunda terra de Francisco e ‘Greccio ficará conhecida como a Belém Franciscana’. A escolha desta terra foi óbvia, pois Francisco a amava ‘por ser um dos ermitérios mais pobres da Ordem emergente’. Este evento traz uma mensagem forte: ‘em vez das violentas cruzadas, Francisco propõe-nos o Evangelho da Paz mostrado ao vivo em Belém ou em Greccio. Toda a terra pode, afinal, ser ‘santa’ se os humanos permitirem que Deus seja Deus’.
A parte final do livro reproduz muitos textos da Carta Apostólica ‘Sinal Admirável’ que o Papa Francisco escreveu por ocasião dos 800 anos do Presépio de Greccio.
Paulinas Editora